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Security cooperation in the Arctic after Ukraine: how the war affected the security dilemma in the polar region

O agravamento das tensões entre Rússia e países ocidentais após a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, gerou impactos significativos na dinâmica de cooperação no Ártico, tradicionalmente pautada por uma lógica de excepcionalismo regional. A militarização crescente e a reconfiguração das alianças, especialmente com a entrada da Finlândia e da Suécia na OTAN, colocaram em xeque a ideia de que o Ártico poderia permanecer imune às disputas geopolíticas globais.

No artigo “Security cooperation in the Arctic after Ukraine: how the war affected the security dilemma in the polar region”, o pesquisador Getúlio Alves de Almeida Neto, membro do CIRE e vinculado ao programa San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), analisa como o dilema de segurança entre a Rússia e os países ocidentais se intensificou na região polar. A pesquisa revisita a literatura sobre o conceito de dilema de segurança, examina documentos estratégicos dos Estados Árticos e se debruça sobre reportagens recentes para entender como as ações mútuas passaram a ser interpretadas como ameaças, aprofundando o abismo diplomático.

Leia o artigo completo aqui.

Eurásia em Foco: Volume 1 | Número 1

O Eurásia em Foco é o mais novo material de divulgação do conhecimento produzido pelo CIRE, em formato de boletim com publicação trimestral.

Buscamos oferecer panoramas informativos e breves análises críticas sobre os processos políticos, sociais, culturais e internacionais referentes à região de interesse de pesquisa do grupo.

Sua primeira edição, que contempla desdobramentos de janeiro a março, conta com cinco notícias comentadas e duas análises especiais feitas pelos nossos membros.

Convidamos a todos a participarem da leitura e do debate promovido pelo Eurásia em Foco.

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Ucrânia pressionada: EUA cobram Zelenksy, e Rússia reforça ataques

No dia 24 de abril de 2025, a pesquisadora Maria Eduarda Carvalho de Araujo, membro do Centro de Pesquisa sobre a Rússia, a Eurásia e o Espaço Pós-Soviético (CIRE), compartilhou suas análises sobre o impasse nas negociações de paz na Guerra na Ucrânia, com Zelensky recusando a ideia de concessões territoriais. A entrevista também abordou a proposta de Donald Trump sobre um cessar-fogo na guerra.

Para acessar a notícia, clique aqui: Proposta de Trump e a posição de Zelensky na guerra da Ucrânia.

A Rota do Mar do Norte: aposta russa para o século XXI

Getúlio Alves de Almeida Neto*

Como citar este artigo: ALMEIDA NETO, Getúlio Alves de. A Rota do Mar do Norte: aposta russa para o século XXI. CIRE – Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético, 22 abr. 2025. https://doi.org/10.5281/zenodo.15263357.

DOI: 10.5281/zenodo.15263357

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O aquecimento global é sentido no Ártico em uma velocidade maior do que no resto do mundo. A temperatura nessa região tem aumentado cerca de 3,8 vezes mais rápido que no restante do planeta, com um aquecimento de suas águas de 0,73 grau Celsius por década entre 1979 e 2021. Recentemente, um novo estudo projetou a possibilidade de o primeiro dia completamente sem gelo no Ártico ocorrer já em 2027. Em razão do crescente degelo no Oceano Ártico, três novas rotas comerciais marítimas são projetadas como alternativas futuras para ligar o Atlântico e o Pacífico: 1) a Rota Marítima Transpolar (TSR, sigla em inglês); 2) a Passagem do Noroeste; 3) Passagem do Nordeste. Enquanto a primeira é ainda uma possibilidade hipotética, que atravessaria o oceano sobre o Polo Norte, as duas outras rotas são costeiras, no Ártico canadense e no russo, respectivamente. Em comparação, o trajeto entre Londres e Yokohama via Passagem do Nordeste é 40% mais curto do que via Canal de Suez. 

No entanto, as rotas do Ártico ainda são pouco utilizadas no comércio internacional devido ao fato de as águas do Oceano Ártico congelarem durante grande parte do ano. O uso de quebra-gelos possibilita o transporte por essas vias, especialmente no verão, quando a camada de gelo está mais fina, facilitando o transporte. Nesse contexto, a Rússia e o Canadá se colocam como atores fundamentais nas discussões sobre o futuro do comércio marítimo internacional. No presente estudo, buscamos analisar como a Rota do Mar do Norte (RMN), uma parte da Passagem do Nordeste, cuja extensão é de cerca de 5.600 km ao longo da costa russa, desde o Estreito de Kara até o Estreito de Bering, é considerada por Moscou como uma oportunidade e um dos principais vetores para o desenvolvimento nacional. Além disso, o projeto já figura nos documentos oficiais e impacta a política externa russa e as estratégias do país para o século XXI. O texto busca explorar brevemente os antecedentes históricos da Rota do Mar do Norte, os objetivos do governo russo e como estes se relacionam com a política externa russa, e os obstáculos que ainda se impõe à via marítima no Ártico russo.

BREVE HISTÓRICO DA PASSAGEM DO NORDESTE

A navegação em mares do Ártico russo data desde, pelo menos, o século X, quando os Pomores (grupo étnico russo habitantes sobretudo no Mar Branco) fizeram a primeira trajetória marítima para leste, chegando até o Estreito de Kara. Nos séculos seguintes, uma sucessão de navegações feitas por diferentes povos nos mares do Ártico ajudaram a melhorar os conhecimentos cartográficos da região. No entanto, foi somente no século XIX que a primeira embarcação conseguiu completar a Rota do Mar do Norte, sob o comando do cientista sueco Adolf Erik Nordenskjöld. A viagem foi financiada pelo magnata e explorador russo Alexander Mikhaylovich Sibiryakov, pelo rei da Suécia Oscar II, e pelo industrial sueco Oscar Dickson. A bordo da embarcação Vega, Nordenskjöld partiu do Estreito de Kara em 30 de julho de 1878. Em 29 de setembro, precisou parar na Península de Chukokta, no extremo leste russo, devido à camada de gelo. Somente no verão seguinte, em agosto de 1879, a expedição Vega conseguiu seguir viagem e alcançar o Estreito de Bering, de onde continuou até Yokohama. Apesar do sucesso, Nordenskjöld acreditava que a rota jamais poderia ser utilizada como via comercial entre Europa e Ásia devido às condições do gelo e à necessidade de passar o inverno a bordo (JOHANNESEN; ALEXANDROV; FROLOV, 2007). 

Após a primeira expedição bem-sucedida, o interesse em utilizar os mares do Oceano Ártico para o transporte de carga cresceu na Rússia Imperial. Entre 1901 e 1914, 42 embarcações realizaram a rota do Mar de Kara, entre as fozes dos rios Ob e Ienissei. Destas, apenas cinco viagens não tiveram êxito. Com o crescimento da utilização dessa via, aumentou a necessidade de investimento do Império Russo em capacidades técnicas, navios quebra-gelo, navios resistentes ao gelo, e infraestrutura ao longo da rota, como estações meteorológicas e de rádio. Houve o aumento do conhecimento sobre as águas do Ártico, mas ainda não era possível estabelecer um uso economicamente viável (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

Após a Revolução de 1917, o governo soviético passou a investir em viagens marítimas no Ártico para fins de estudo, que ajudaram no entendimento mais profundo da região. A rota no norte russo passou a ser ainda mais importante para o transporte de alimentos para as populações no nordeste do país, principalmente no Mar de Kara. Em 1932, foi criada a Direção Chefe da Rota do Mar do Norte (Glavsevmortput, em russo transliterado), uma espécie de superministério soviético que existiu até 1964 e que tinha por objetivo desenvolver plenamente a Rota do Mar do Norte a fim de possibilitar viagens comerciais desde o Mar Branco até o Estreito de Bering.  Naquele mesmo ano, o quebra-gelo Sibiryakov foi a primeira embarcação a percorrer toda a rota em uma única temporada, sem ter de passar o inverno atracado no gelo, sendo um marco na exploração do Ártico e impulsionando os investimentos soviéticos no desenvolvimento da rota.  Antes da Segunda Guerra Mundial, 4.3 milhões de toneladas foram transportadas pela RMN (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

Em suma, a era soviética foi marcada pelo alto investimento na exploração científica do Ártico, pela fabricação de novos modelos de quebra-gelo – inclusive  o primeiro de propulsão nuclear do mundo, o Lenin, em 1960 – pela melhora da infraestrutura ao longo da costa e a criação de diversos portos para facilitar o transporte doméstico de produtos e matérias primas ao longo do território russo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma crescente constante do total de carga transportada através da RMN, sendo  o ano de 1987 com o maior volume, atingindo o recorde de 6.578 milhões de toneladas (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

A ROTA DO MAR DO NORTE NA RÚSSIA PÓS-SOVIÉTICA

Apesar da grande importância dada à RMN no período soviético, esta via marítima ainda era, de maneira geral, fechada para embarcações estrangeiras. Com a instauração do regime soviético, somente em duas ocasiões pré-Segunda Guerra Mundial um navio com bandeira estrangeira percorreu a rota para fins comerciais: o navio norueguês Maud, em 1918 e o Kometa, de origem alemã, em 1940. Depois da guerra, apenas com raras exceções, permitia-se a participação em missões científicas ou com algumas permissões especiais, mas sempre com a escolta de quebra-gelos russos, fortemente supervisionados e apenas em alguns segmentos da rota.

Em primeiro de julho de 1991, a RMN foi oficialmente reaberta para navegação internacional. Logo após a reabertura, o navio L’Astrolable, de bandeira francesa, realizou uma expedição de cunho científico e como gesto simbólico de reaproximação entre os países e de possibilidade de uso para navegação da RMN, partindo da Europa até o Japão (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007). Outro marco importante foi a viagem realizada pelo navio finlandês Kandalaksha, em 1995, saindo de Yokohama, Japão, até Kirkenes, Noruega. Tratou-se da primeira viagem comercial internacional realizada pela RMN após a era soviética Apesar de ser de produção finlandesa, pertencia à empresa russa Norilsk Nickel. Nesse sentido, em 2010 um novo marco serviu para criar a expectativa de transformação da RMN em uma rota viável, quando um navio graneleiro transportou minério de ferro da Noruega para a China, sendo a primeira embarcação não-russa e com carga não-russa a utilizar a rota comercialmente (GUNNARSON; MOE, 2021).

Contudo, após o recorde de 1987, observou-se uma queda constante do volume transportado pelos mares do Ártico russo, até o ano de 2000, com 1.587 milhões de toneladas, valor próximo ao ano de 1965. Com a eleição de Putin, os anos 2000 foram palco de uma retomada do crescimento econômico russo, estabilização política e da renovação do interesse estratégico em relação ao Ártico. Nesse contexto, em 2008 foi publicada a primeira Política da Federação Russa no Ártico, com objetivos traçados até 2020. O documento teve como propósito a definição dos principais objetivos, prioridades estratégicas e mecanismos de realização destas para o desenvolvimento econômico e social da zona do Ártico da Federação Russa e da manutenção da segurança nacional do país. Entre outros objetivos de interesse nacional, o documento destaca a utilização da RMN como uma rota de transporte e comunicação nacional. Além disso, define como prioridade estratégica desenvolvê-la para a navegação internacional sob a jurisdição da Federação Russa e de acordo com os tratados internacionais das quais o país faz parte.  Em 2013, foi publicada a Estratégia para o Desenvolvimento da Zona do Ártico da Federação Russa até 2020, com o intuito de estabelecer os meios e os índices de análise para as metas com base no decreto de 2008.

Para tanto, a Estratégia para a Zona do Ártico define como objetivo prover a reestruturação da RMN através do apoio estatal para a construção de uma nova frota de quebra-gelos e de embarcações para busca e resgate, para a renovação da infraestrutura da costa e para a criação de sistemas de controle de comunicação. Ademais, almeja-se a construção de um sistema complexo de controle técnico sobre as zonas dos estreitos, estuários de rios, braços do mar e do itinerário ao longo da RMN.

Nesse contexto, três frentes se destacam na tentativa russa de estabelecer a RMN como uma nova rota marítima viável no século XXI, sobretudo em razão das perspectivas do derretimento do gelo no Ártico com o aquecimento global: i) a nova frota de quebra-gelos, com os Projetos 22220 e 10510;  ii) a renovação da infraestrutura portuária e dos mecanismos de controle; iii) a promulgação de uma legislação afirmando a soberania russa ao longo da costa e definindo os parâmetros para que navios estrangeiros possam transitar por essa rota.

A nova frota de quebra-gelos movidos a propulsão nuclear virá a ser composta pelos sete navios construídos sob o Projeto 22220 – do qual cinco já foram entregues: Arktika, Sibir, Ural, Chukotka e Yakutia -, e o navio Líder, do Projeto 10510. A Estratégia de 2020 ainda define como objetivo a construção de quatro quebra-gelos não nucleares e a renovação de outros tipos de embarcações de classe de gelo,  além de 16 embarcações para busca e resgate até 2020, e 30 até 2030.

Em relação ao desenvolvimento da infraestrutura da RMN, a Estratégia para o Ártico de 2020, são definidos diversos objetivo pelo governo russo, dos quais se destacam: a expansão das possibilidades de navegação entre os canais e rios que deságuam nos mares do Ártico; modernização e construção de portos, aeroportos e ferrovias; lançamento de um sistema orbital para monitoramento de dados hidrometeorológicos para a região polar; cabos submarinos para comunicação entre portos e grandes cidades do Ártico.

No que tange a legislação russa, uma série de leis e decretos regulam a navegação através da RMN. O arcabouço jurídico-legal e institucional russo nesse contexto é compreendido principalmente pelo Código para Navegação Mercantil da Federação Russa (1998, com emendas em 2012); a Lei Federal de Águas Internas, Mar Territorial e Zona Contígua da Federação Russa (1998, com emendas em 2011 e 2022); a criação da Administração da Rota do Mar do Norte, em 2013. Em 2018, houve a transferência da administração e das operações ao longo da RMN para a Companhia Estatal de Energia Nuclear da Federação Russa, a Rosatom. Desde então, a estatal russa do setor nuclear é responsável pelo desenvolvimento da infraestrutura; pela construção da nova frota de navios e sua operacionalização, através da subsidiária Atomflot; pela assistência com quebra-gelos e outros serviços; e desenvolvimento de estrutura e de sistemas de controle de tráfego.

Em suma, as leis e regulamentos russos reforçam o fato de que a Rota do Mar do Norte se encontra sob zona de soberania russa, considerando-a como parte de suas águas internas, e estabelecem uma série de regras de ordem ambiental e de segurança para permissão da passagem de navios de bandeira estrangeira, que precisam de aprovação para o trânsito na região e, muitas vezes, sob escolta de quebra-gelos russos.

Assim, desde 2014 a RMN vem experimentando um crescimento exponencial em seu fluxo de tráfego. Segundo dados divulgados pela Estratégia para o Desenvolvimento do Ártico de 2020, o volume de carga transportada por essa via marítima passou de 4 milhões de toneladas, em 2014, para 31,5 milhões em 2019. Não obstante, as novas versões da Política e da Estratégia para o Ártico russo, ambas publicadas em 2020, trazem como um dos principais desafios o fato de que o país não tem conseguido cumprir os prazos estabelecidos em relação ao desenvolvimento da infraestrutura costeira e de construção de novas frotas de quebra-gelos e navios de resgate e suporte. É interessante notar que o documento destaca, enquanto objetivo, expandir a participação da iniciativa privada em investimentos na RMN, ainda que sobre controle operacional do Estado russo.  

Ao final do documento, há um anexo com os índices de performance a serem alcançados. Em relação à RMN, define-se como objetivo o transporte de 90 milhões de toneladas em 2030 e 130 milhões de toneladas em 2035. Em 2024, o transporte pela RMN atingiu o recorde de aproximadamente 38 milhões de toneladas. No  entanto, o número ainda é metade dos 80 milhões de toneladas que haviam sido projetados em 2018. Além disso, em sua grande maioria, as viagens por essa rota são para o transporte doméstico entre portos russos ou entre um porto no Ártico para um porto fora do Ártico, mas ainda com pouco trânsito entre o Pacífico e o Atlântico (GUNNARSON; MOE, 2021).

DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Uma série de desafios se colocam para a Rússia em relação a sua capacidade de atingir os objetivos dentro dos prazos estabelecidos para a RMN. Em primeiro lugar, a capacidade de construção de quebra-gelos e de navios aptos ao tráfego nas águas do Ártico é diminuta, devido à complexidade deste tipo de tecnologia e da necessidade de cooperação com outros países. Nesse âmbito, os países asiáticos costumam ser uma possibilidade de parceria para a construção e fornecimento de navios de classe-gelo, como Singapura, Japão e, principalmente, Coreia do Sul, além da possibilidade de cooperação  no processo de construção e modernização dos portos russos. Contudo, as sanções e o distanciamento entre estes países e Moscou trazem dificuldades para as possibilidades de cooperação. Como resultado, a Rússia iniciou um projeto de revitalização e fortalecimento de sua indústria naval, a fim de reduzir a dependência de importação, e passou a se reorientar em direção a  novos parceiros, principalmente China e Índia, com o intuito de desenvolver projetos de construção de embarcações polares (LEKSYUTINA, 2021). 

Outro ponto que pode atuar como um empecilho a um fluxo de navegação internacional via RMN é a legislação russa, cujas  regras muito restritas podem diminuir o interesse comercial. Como exemplo, as alterações no Código de Transporte Mercantil da Rússia definem que embarcações que não sejam de bandeira russa podem ser obrigadas a fretar a escolta de quebra-gelos russos e, eventualmente, serem pilotadas por russos. Ademais, as embarcações precisam de autorização prévia para o percurso, necessitam cumprir  requisitos rígidos e são monitoradas pela administração russa ao longo da rota marítima (GAVRILOV, 2020). Assim, o conjunto de regras e restrições podem encarecer o custo de transporte via RMN e afastar o interesse de outros países em utilizá-la.

Por outro lado, alguns pontos podem servir de expectativa positiva para as pretensões russas na RMN. Em primeiro e mais importante lugar, destaca-se as projeções de verões sem gelo no Ártico. Em 2012, por exemplo, a camada de gelo sobre o Oceano Ártico atingiu 3.6 milhões de quilômetros quadrados, seu nível mais baixo desde que o monitoramento começou, sendo quase a metade da área total em 1979 (BYERS, 2013). No inverno de 2025, a camada de gelo no Ártico também atingiu seu índice mais baixo já registrado, com 14,33 milhões de quilômetros quadrados. Esse prognóstico indica a possibilidade de redução dos custos de transporte via RMN uma vez que: i) a escolta por navios quebra-gelo, eventualmente, se tornaria necessária com menos frequência; ii) derrubaria os custos administrativos e as exigências para determinados tipos de navio classe-gelo. Assim, seria possível imaginar um cenário no qual a rota seja mais viável não apenas em termos de tempo, mas também no aspecto econômico para o transporte marítimo entre Europa e Ásia do que via Canal de Suez. Em relação à possibilidade de transporte sem a escolta de quebra-gelos, em 2017 o navio-tanque russo realizou a primeira viagem desse tipo Christophe de Margerie, ao transportar GNL da Noruega até a Coreia do Sul.

Por fim, mesmo que o transporte internacional que ligue os dois continentes não seja tão utilizado por embarcações de outros países como o almejado pela Rússia, ainda assim, a rota pode se tornar uma via vital para o transporte de petróleo e GNL para a Ásia, sobretudo devido ao crescente interesse de países como China, Japão e Coreia do Sul no gás russo. Ademais, o interesse da China em se aproximar de questões geopolíticas do Ártico, epitomizadas pelos investimentos em centros de pesquisa em países como Islândia e Noruega; em sua declaração via política oficial, em 2018 enquanto país “próximo ao Ártico”; e seu projeto Roda da Seda do Ártico, são indícios de que Pequim está disposto a promover a utilização da RMN e transformá-la em uma via marítima internacional economicamente viável e estratégica.

Por isso, conclui-se que, embora os resultados até agora alcançados pela Rússia em relação à RMN ainda estejam muito abaixo do projetado, é inegável o aumento constante de sua utilização, cuja importância econômica e comercial é de ordem tanto doméstica quanto internacional. Além disso, o aumento da temperatura no Ártico pode torná-lo, em breve, de fato competitivo em relação a outras rotas marítimas comerciais tradicionais. Por isso, enquanto parte do contexto maior da política russa para o Ártico, como plataforma de desenvolvimento econômico e de projeção internacional, a RMN pode ser entendida como uma das maiores apostas de Moscou para o século XXI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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*Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). Contato: getulio.neto@unesp.br

 

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Memória histórica e anexação da Crimeia: o papel das percepções do passado para o processo de legitimação da política externa russa (1999-2014)

A dissertação de mestrado de Maria Eduarda Carvalho de Araujo, membro do CIRE, investiga a relação entre a memória histórica e o processo de legitimação da anexação da Crimeia em 2014, destacando como o governo russo acionou a memória do passado para justificar essa decisão em sua política externa.

A pesquisa articula os estudos sobre memória, legitimação e segurança ontológica, propondo que a memória histórica desempenhou um papel central na formulação da identidade nacional russa e na construção de sua postura externa pós-soviética.

Acesse a dissertação aqui.

Análise: com culpa no cartório, Kiev vai reciclar narrativa de Bucha para explicar ataque em Sumy

No dia 14 de abril de 2025, a professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Franca e membro do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), Danielle Makio, comentou à Sputnik Brasil as implicações jurídicas e narrativas do ataque russo à Universidade Estadual de Sumy, na Ucrânia.

Makio destacou que a realização de uma cerimônia militar em área urbana, com grande circulação de civis, “coloca a população local em risco absoluto” e constitui uma grave violação aos princípios do Direito Internacional Humanitário. Para a pesquisadora, a proximidade entre alvos civis e militares infringe a obrigação de distinguir entre combatentes e não combatentes, e expõe uma estratégia deliberada do governo ucraniano de usar “escudos humanos” para moldar a percepção pública internacional do conflito.

A professora também chamou atenção para a forma como o episódio tem sido abordado pela mídia ocidental. Segundo ela, o silenciamento ou a omissão sobre a natureza militar do evento em Sumy revela uma “seletividade narrativa” que reforça uma dicotomia simplista, apresentando a Ucrânia como vítima absoluta e a Rússia como agressora irracional. “Essa construção binária não resiste a uma análise mais crítica dos fatos em campo, mas é sustentada pela força do mainstream midiático”, afirmou Makio.

Para a especialista, há o risco concreto de que o ataque em Sumy seja transformado em “uma nova Bucha”, referência à controvérsia em torno da cidade ucraniana onde imagens de civis mortos geraram forte comoção internacional em 2022. “Se a cobertura continuar a descontextualizar os fatos, será mais uma oportunidade de manipulação da opinião pública internacional, com impactos diretos na escalada do conflito e na inviabilização de iniciativas de paz”, concluiu a pesquisadora.

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Amazônia Azul é a próxima Groenlândia? Brasil quer submarino nuclear para dissuasão, diz analista

No dia 4 de abril de 2025, o pesquisador do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), Pérsio Glória de Paula, comentou à Sputnik Brasil os desafios do programa de construção do submarino nuclear brasileiro e a importância estratégica da chamada “Amazônia Azul” frente ao cenário geopolítico internacional.

Segundo Pérsio, a lenta execução orçamentária e as limitações estruturais do PROSUB podem comprometer a capacidade de dissuasão do Brasil em um contexto de crescente competição global pelos recursos marítimos. Para o pesquisador, a Marinha tem avançado em marcos tecnológicos importantes — como o domínio do ciclo do combustível nuclear e a construção do complexo naval de Itaguaí —, mas ainda enfrenta gargalos críticos como a miniaturização segura de reatores para propulsão submarina.

Pérsio destacou que a ambição brasileira de integrar o seleto grupo de países com submarinos nucleares não é mero capricho, mas resposta à valorização estratégica do Atlântico Sul. “A Amazônia Azul pode se tornar, para as próximas décadas, o que a Groenlândia representa hoje para o Ártico: um território de projeção de poder e disputa tecnológica latente”, afirmou.

Ao abordar o orçamento da Defesa para 2025, Pérsio observou que a instabilidade dos recursos representa mais do que um obstáculo técnico — revela a ausência de uma política de defesa de Estado e não de governo. “A segurança marítima, energética e tecnológica brasileira passa por decisões estratégicas que não podem mais ser adiadas, sob pena de o país perder sua janela de inserção autônoma no sistema internacional”, concluiu.

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Aconteceu em Março/2025

Reveja os eventos marcantes de março de 2025. Clique nos links para ler as notícias!

04/03/2025 e 06/03/2025 – Aumento de tensões entre Europa e Rússia após declarações de Emmanuel Macron

04/03/2024 – Zelensky descreve reunião no Salão Oval como “lamentável” e diz que está pronto para negociar a paz

06/03/2025 – Rússia critica ‘ameaça’ do francês Emmanuel Macron enquanto tenta se aproximar de Washington

05/03/2025 – Líder da junta militar governista do Myanmar se reúne com Putin em Moscou

04/03/2025 – Declarações após as conversas entre Rússia e Mianmar

05/03/2025 – Chefe do governo militar de Mianmar visita a Rússia para negociações de cooperação com Putin

06/03/2025 – Lituânia se retirara da Convenção sobre Munições de Fragmentação

05/03/2025 – A saída da Lituânia da Convenção sobre Munições de Fragmentação cria perigos para a sua população e para as normas globais

06/03/2025 – Lituânia abandona tratado que proíbe bombas de fragmentação apesar da indignação

11/03/2025 – Letônia prende cidadãos estoniano e ucraniano por espionagem

13/03/2025 – Fronteiras Tadjique-Quirguizes são reabertas após acordo histórico

13/03/2025 – Ucrânia é responsabilizada por tribunal europeu pelos eventos de Odessa, em 2014

17/03/2025 – Rússia realiza o primeiro teste do Superjet 100 com novo motor de propulsão produzido domesticamente

19/03/2025 – Aumentam as relações entre membros da União Europeia e lideranças da Ásia Central

19/03/2025 – De Paris a Tashkent: a estratégia da França no Uzbequistão e na Ásia Central

19/03/2025 – Esta é uma verdadeira parceria vantajosa para todos, afirma o alto executivo do BEI sobre as relações entre o Cazaquistão e a UE

19/03/2025 – Cooperação UE-Uzbequistão concentra-se na conectividade digital e em matérias-primas críticas

19/03/2025 – Rússia e Ucrânia chegam a um cessar-fogo de 30 dias limitado à infraestrutura energética

20/03/2025 – Armênia e Turquia negociam a passagem de ajuda humanitária à Síria temporariamente

 

Fonte das imagens: WikiCommuns

O uso de bombas cluster na guerra da Ucrânia: Análise da moral e do processo de legitimação do fornecimento estadunidense a Kiev

A decisão do governo Biden de fornecer bombas cluster para a Ucrânia, em meio ao conflito com a Rússia, levanta questões complexas sobre ética, moralidade e processos de legitimação no cenário internacional contemporâneo. Este tipo de armamento, estigmatizado pela Convenção sobre Munições Cluster de 2008, é alvo de críticas devido ao risco que representa para civis, mesmo após o término das hostilidades.

O artigo de Getúlio Alves de Almeida Neto, pesquisador do San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) e membro do CIRE, oferece uma análise rigorosa desse processo, explorando os fatores morais, legais e políticos que possibilitaram a decisão estadunidense. Ao examinar o debate interno nos Estados Unidos, a pesquisa traça um panorama abrangente sobre como essa medida foi legitimada e aceita, apesar das críticas e controvérsias.

Leia o artigo completo aqui.

‘Histórico’: cúpula em Riad marca início do fim das sanções ocidentais contra a Rússia

No dia 25 de março de 2025, Getúlio Alves de Almeida Neto, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), analisou na Sputnik Brasil as negociações em Riad e seus impactos na segurança internacional e na economia russa.

Getúlio destacou que as possibilidades de ação ucraniana são essencialmente pautadas por Washington e que qualquer garantia de cessar-fogo só poderá ser concretizada através de um comando direto dos Estados Unidos a Kiev. Para o pesquisador, as palavras de Sergei Lavrov refletem uma realidade na qual a influência de Washington é determinante para que o Kremlin tenha maior segurança quanto ao cumprimento de eventuais acordos por parte da Ucrânia.

Sobre o acordo de suspensão de sanções contra o Rosselkhozbank e outras instituições financeiras, Getúlio afirmou que isso representa um marco importante na tentativa de reinserção da Rússia nos mercados globais. A retomada de operações agrícolas e comerciais, garantidas pela reconexão ao SWIFT e pela suspensão de sanções a empresas e seguradoras, é vista como um indicativo da disposição dos Estados Unidos em encerrar o conflito.

“O fato de os Estados Unidos concordarem com a retomada dessas operações comerciais é um claro sinal de cansaço e pragmatismo diante de um conflito prolongado”, concluiu Getúlio.

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