[elementor-template id="5531"]

Eurásia em Foco: Volume 1 | Número 1

O Eurásia em Foco é o mais novo material de divulgação do conhecimento produzido pelo CIRE, em formato de boletim com publicação trimestral.

Buscamos oferecer panoramas informativos e breves análises críticas sobre os processos políticos, sociais, culturais e internacionais referentes à região de interesse de pesquisa do grupo.

Sua primeira edição, que contempla desdobramentos de janeiro a março, conta com cinco notícias comentadas e duas análises especiais feitas pelos nossos membros.

Convidamos a todos a participarem da leitura e do debate promovido pelo Eurásia em Foco.

Acesse o PDF aqui

A Rota do Mar do Norte: aposta russa para o século XXI

Getúlio Alves de Almeida Neto*

Como citar este artigo: ALMEIDA NETO, Getúlio Alves de. A Rota do Mar do Norte: aposta russa para o século XXI. CIRE – Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético, 22 abr. 2025. https://doi.org/10.5281/zenodo.15263357.

DOI: 10.5281/zenodo.15263357

Acesse o PDF aqui

 

O aquecimento global é sentido no Ártico em uma velocidade maior do que no resto do mundo. A temperatura nessa região tem aumentado cerca de 3,8 vezes mais rápido que no restante do planeta, com um aquecimento de suas águas de 0,73 grau Celsius por década entre 1979 e 2021. Recentemente, um novo estudo projetou a possibilidade de o primeiro dia completamente sem gelo no Ártico ocorrer já em 2027. Em razão do crescente degelo no Oceano Ártico, três novas rotas comerciais marítimas são projetadas como alternativas futuras para ligar o Atlântico e o Pacífico: 1) a Rota Marítima Transpolar (TSR, sigla em inglês); 2) a Passagem do Noroeste; 3) Passagem do Nordeste. Enquanto a primeira é ainda uma possibilidade hipotética, que atravessaria o oceano sobre o Polo Norte, as duas outras rotas são costeiras, no Ártico canadense e no russo, respectivamente. Em comparação, o trajeto entre Londres e Yokohama via Passagem do Nordeste é 40% mais curto do que via Canal de Suez. 

No entanto, as rotas do Ártico ainda são pouco utilizadas no comércio internacional devido ao fato de as águas do Oceano Ártico congelarem durante grande parte do ano. O uso de quebra-gelos possibilita o transporte por essas vias, especialmente no verão, quando a camada de gelo está mais fina, facilitando o transporte. Nesse contexto, a Rússia e o Canadá se colocam como atores fundamentais nas discussões sobre o futuro do comércio marítimo internacional. No presente estudo, buscamos analisar como a Rota do Mar do Norte (RMN), uma parte da Passagem do Nordeste, cuja extensão é de cerca de 5.600 km ao longo da costa russa, desde o Estreito de Kara até o Estreito de Bering, é considerada por Moscou como uma oportunidade e um dos principais vetores para o desenvolvimento nacional. Além disso, o projeto já figura nos documentos oficiais e impacta a política externa russa e as estratégias do país para o século XXI. O texto busca explorar brevemente os antecedentes históricos da Rota do Mar do Norte, os objetivos do governo russo e como estes se relacionam com a política externa russa, e os obstáculos que ainda se impõe à via marítima no Ártico russo.

BREVE HISTÓRICO DA PASSAGEM DO NORDESTE

A navegação em mares do Ártico russo data desde, pelo menos, o século X, quando os Pomores (grupo étnico russo habitantes sobretudo no Mar Branco) fizeram a primeira trajetória marítima para leste, chegando até o Estreito de Kara. Nos séculos seguintes, uma sucessão de navegações feitas por diferentes povos nos mares do Ártico ajudaram a melhorar os conhecimentos cartográficos da região. No entanto, foi somente no século XIX que a primeira embarcação conseguiu completar a Rota do Mar do Norte, sob o comando do cientista sueco Adolf Erik Nordenskjöld. A viagem foi financiada pelo magnata e explorador russo Alexander Mikhaylovich Sibiryakov, pelo rei da Suécia Oscar II, e pelo industrial sueco Oscar Dickson. A bordo da embarcação Vega, Nordenskjöld partiu do Estreito de Kara em 30 de julho de 1878. Em 29 de setembro, precisou parar na Península de Chukokta, no extremo leste russo, devido à camada de gelo. Somente no verão seguinte, em agosto de 1879, a expedição Vega conseguiu seguir viagem e alcançar o Estreito de Bering, de onde continuou até Yokohama. Apesar do sucesso, Nordenskjöld acreditava que a rota jamais poderia ser utilizada como via comercial entre Europa e Ásia devido às condições do gelo e à necessidade de passar o inverno a bordo (JOHANNESEN; ALEXANDROV; FROLOV, 2007). 

Após a primeira expedição bem-sucedida, o interesse em utilizar os mares do Oceano Ártico para o transporte de carga cresceu na Rússia Imperial. Entre 1901 e 1914, 42 embarcações realizaram a rota do Mar de Kara, entre as fozes dos rios Ob e Ienissei. Destas, apenas cinco viagens não tiveram êxito. Com o crescimento da utilização dessa via, aumentou a necessidade de investimento do Império Russo em capacidades técnicas, navios quebra-gelo, navios resistentes ao gelo, e infraestrutura ao longo da rota, como estações meteorológicas e de rádio. Houve o aumento do conhecimento sobre as águas do Ártico, mas ainda não era possível estabelecer um uso economicamente viável (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

Após a Revolução de 1917, o governo soviético passou a investir em viagens marítimas no Ártico para fins de estudo, que ajudaram no entendimento mais profundo da região. A rota no norte russo passou a ser ainda mais importante para o transporte de alimentos para as populações no nordeste do país, principalmente no Mar de Kara. Em 1932, foi criada a Direção Chefe da Rota do Mar do Norte (Glavsevmortput, em russo transliterado), uma espécie de superministério soviético que existiu até 1964 e que tinha por objetivo desenvolver plenamente a Rota do Mar do Norte a fim de possibilitar viagens comerciais desde o Mar Branco até o Estreito de Bering.  Naquele mesmo ano, o quebra-gelo Sibiryakov foi a primeira embarcação a percorrer toda a rota em uma única temporada, sem ter de passar o inverno atracado no gelo, sendo um marco na exploração do Ártico e impulsionando os investimentos soviéticos no desenvolvimento da rota.  Antes da Segunda Guerra Mundial, 4.3 milhões de toneladas foram transportadas pela RMN (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

Em suma, a era soviética foi marcada pelo alto investimento na exploração científica do Ártico, pela fabricação de novos modelos de quebra-gelo – inclusive  o primeiro de propulsão nuclear do mundo, o Lenin, em 1960 – pela melhora da infraestrutura ao longo da costa e a criação de diversos portos para facilitar o transporte doméstico de produtos e matérias primas ao longo do território russo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma crescente constante do total de carga transportada através da RMN, sendo  o ano de 1987 com o maior volume, atingindo o recorde de 6.578 milhões de toneladas (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007).

A ROTA DO MAR DO NORTE NA RÚSSIA PÓS-SOVIÉTICA

Apesar da grande importância dada à RMN no período soviético, esta via marítima ainda era, de maneira geral, fechada para embarcações estrangeiras. Com a instauração do regime soviético, somente em duas ocasiões pré-Segunda Guerra Mundial um navio com bandeira estrangeira percorreu a rota para fins comerciais: o navio norueguês Maud, em 1918 e o Kometa, de origem alemã, em 1940. Depois da guerra, apenas com raras exceções, permitia-se a participação em missões científicas ou com algumas permissões especiais, mas sempre com a escolta de quebra-gelos russos, fortemente supervisionados e apenas em alguns segmentos da rota.

Em primeiro de julho de 1991, a RMN foi oficialmente reaberta para navegação internacional. Logo após a reabertura, o navio L’Astrolable, de bandeira francesa, realizou uma expedição de cunho científico e como gesto simbólico de reaproximação entre os países e de possibilidade de uso para navegação da RMN, partindo da Europa até o Japão (BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV, 2007). Outro marco importante foi a viagem realizada pelo navio finlandês Kandalaksha, em 1995, saindo de Yokohama, Japão, até Kirkenes, Noruega. Tratou-se da primeira viagem comercial internacional realizada pela RMN após a era soviética Apesar de ser de produção finlandesa, pertencia à empresa russa Norilsk Nickel. Nesse sentido, em 2010 um novo marco serviu para criar a expectativa de transformação da RMN em uma rota viável, quando um navio graneleiro transportou minério de ferro da Noruega para a China, sendo a primeira embarcação não-russa e com carga não-russa a utilizar a rota comercialmente (GUNNARSON; MOE, 2021).

Contudo, após o recorde de 1987, observou-se uma queda constante do volume transportado pelos mares do Ártico russo, até o ano de 2000, com 1.587 milhões de toneladas, valor próximo ao ano de 1965. Com a eleição de Putin, os anos 2000 foram palco de uma retomada do crescimento econômico russo, estabilização política e da renovação do interesse estratégico em relação ao Ártico. Nesse contexto, em 2008 foi publicada a primeira Política da Federação Russa no Ártico, com objetivos traçados até 2020. O documento teve como propósito a definição dos principais objetivos, prioridades estratégicas e mecanismos de realização destas para o desenvolvimento econômico e social da zona do Ártico da Federação Russa e da manutenção da segurança nacional do país. Entre outros objetivos de interesse nacional, o documento destaca a utilização da RMN como uma rota de transporte e comunicação nacional. Além disso, define como prioridade estratégica desenvolvê-la para a navegação internacional sob a jurisdição da Federação Russa e de acordo com os tratados internacionais das quais o país faz parte.  Em 2013, foi publicada a Estratégia para o Desenvolvimento da Zona do Ártico da Federação Russa até 2020, com o intuito de estabelecer os meios e os índices de análise para as metas com base no decreto de 2008.

Para tanto, a Estratégia para a Zona do Ártico define como objetivo prover a reestruturação da RMN através do apoio estatal para a construção de uma nova frota de quebra-gelos e de embarcações para busca e resgate, para a renovação da infraestrutura da costa e para a criação de sistemas de controle de comunicação. Ademais, almeja-se a construção de um sistema complexo de controle técnico sobre as zonas dos estreitos, estuários de rios, braços do mar e do itinerário ao longo da RMN.

Nesse contexto, três frentes se destacam na tentativa russa de estabelecer a RMN como uma nova rota marítima viável no século XXI, sobretudo em razão das perspectivas do derretimento do gelo no Ártico com o aquecimento global: i) a nova frota de quebra-gelos, com os Projetos 22220 e 10510;  ii) a renovação da infraestrutura portuária e dos mecanismos de controle; iii) a promulgação de uma legislação afirmando a soberania russa ao longo da costa e definindo os parâmetros para que navios estrangeiros possam transitar por essa rota.

A nova frota de quebra-gelos movidos a propulsão nuclear virá a ser composta pelos sete navios construídos sob o Projeto 22220 – do qual cinco já foram entregues: Arktika, Sibir, Ural, Chukotka e Yakutia -, e o navio Líder, do Projeto 10510. A Estratégia de 2020 ainda define como objetivo a construção de quatro quebra-gelos não nucleares e a renovação de outros tipos de embarcações de classe de gelo,  além de 16 embarcações para busca e resgate até 2020, e 30 até 2030.

Em relação ao desenvolvimento da infraestrutura da RMN, a Estratégia para o Ártico de 2020, são definidos diversos objetivo pelo governo russo, dos quais se destacam: a expansão das possibilidades de navegação entre os canais e rios que deságuam nos mares do Ártico; modernização e construção de portos, aeroportos e ferrovias; lançamento de um sistema orbital para monitoramento de dados hidrometeorológicos para a região polar; cabos submarinos para comunicação entre portos e grandes cidades do Ártico.

No que tange a legislação russa, uma série de leis e decretos regulam a navegação através da RMN. O arcabouço jurídico-legal e institucional russo nesse contexto é compreendido principalmente pelo Código para Navegação Mercantil da Federação Russa (1998, com emendas em 2012); a Lei Federal de Águas Internas, Mar Territorial e Zona Contígua da Federação Russa (1998, com emendas em 2011 e 2022); a criação da Administração da Rota do Mar do Norte, em 2013. Em 2018, houve a transferência da administração e das operações ao longo da RMN para a Companhia Estatal de Energia Nuclear da Federação Russa, a Rosatom. Desde então, a estatal russa do setor nuclear é responsável pelo desenvolvimento da infraestrutura; pela construção da nova frota de navios e sua operacionalização, através da subsidiária Atomflot; pela assistência com quebra-gelos e outros serviços; e desenvolvimento de estrutura e de sistemas de controle de tráfego.

Em suma, as leis e regulamentos russos reforçam o fato de que a Rota do Mar do Norte se encontra sob zona de soberania russa, considerando-a como parte de suas águas internas, e estabelecem uma série de regras de ordem ambiental e de segurança para permissão da passagem de navios de bandeira estrangeira, que precisam de aprovação para o trânsito na região e, muitas vezes, sob escolta de quebra-gelos russos.

Assim, desde 2014 a RMN vem experimentando um crescimento exponencial em seu fluxo de tráfego. Segundo dados divulgados pela Estratégia para o Desenvolvimento do Ártico de 2020, o volume de carga transportada por essa via marítima passou de 4 milhões de toneladas, em 2014, para 31,5 milhões em 2019. Não obstante, as novas versões da Política e da Estratégia para o Ártico russo, ambas publicadas em 2020, trazem como um dos principais desafios o fato de que o país não tem conseguido cumprir os prazos estabelecidos em relação ao desenvolvimento da infraestrutura costeira e de construção de novas frotas de quebra-gelos e navios de resgate e suporte. É interessante notar que o documento destaca, enquanto objetivo, expandir a participação da iniciativa privada em investimentos na RMN, ainda que sobre controle operacional do Estado russo.  

Ao final do documento, há um anexo com os índices de performance a serem alcançados. Em relação à RMN, define-se como objetivo o transporte de 90 milhões de toneladas em 2030 e 130 milhões de toneladas em 2035. Em 2024, o transporte pela RMN atingiu o recorde de aproximadamente 38 milhões de toneladas. No  entanto, o número ainda é metade dos 80 milhões de toneladas que haviam sido projetados em 2018. Além disso, em sua grande maioria, as viagens por essa rota são para o transporte doméstico entre portos russos ou entre um porto no Ártico para um porto fora do Ártico, mas ainda com pouco trânsito entre o Pacífico e o Atlântico (GUNNARSON; MOE, 2021).

DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Uma série de desafios se colocam para a Rússia em relação a sua capacidade de atingir os objetivos dentro dos prazos estabelecidos para a RMN. Em primeiro lugar, a capacidade de construção de quebra-gelos e de navios aptos ao tráfego nas águas do Ártico é diminuta, devido à complexidade deste tipo de tecnologia e da necessidade de cooperação com outros países. Nesse âmbito, os países asiáticos costumam ser uma possibilidade de parceria para a construção e fornecimento de navios de classe-gelo, como Singapura, Japão e, principalmente, Coreia do Sul, além da possibilidade de cooperação  no processo de construção e modernização dos portos russos. Contudo, as sanções e o distanciamento entre estes países e Moscou trazem dificuldades para as possibilidades de cooperação. Como resultado, a Rússia iniciou um projeto de revitalização e fortalecimento de sua indústria naval, a fim de reduzir a dependência de importação, e passou a se reorientar em direção a  novos parceiros, principalmente China e Índia, com o intuito de desenvolver projetos de construção de embarcações polares (LEKSYUTINA, 2021). 

Outro ponto que pode atuar como um empecilho a um fluxo de navegação internacional via RMN é a legislação russa, cujas  regras muito restritas podem diminuir o interesse comercial. Como exemplo, as alterações no Código de Transporte Mercantil da Rússia definem que embarcações que não sejam de bandeira russa podem ser obrigadas a fretar a escolta de quebra-gelos russos e, eventualmente, serem pilotadas por russos. Ademais, as embarcações precisam de autorização prévia para o percurso, necessitam cumprir  requisitos rígidos e são monitoradas pela administração russa ao longo da rota marítima (GAVRILOV, 2020). Assim, o conjunto de regras e restrições podem encarecer o custo de transporte via RMN e afastar o interesse de outros países em utilizá-la.

Por outro lado, alguns pontos podem servir de expectativa positiva para as pretensões russas na RMN. Em primeiro e mais importante lugar, destaca-se as projeções de verões sem gelo no Ártico. Em 2012, por exemplo, a camada de gelo sobre o Oceano Ártico atingiu 3.6 milhões de quilômetros quadrados, seu nível mais baixo desde que o monitoramento começou, sendo quase a metade da área total em 1979 (BYERS, 2013). No inverno de 2025, a camada de gelo no Ártico também atingiu seu índice mais baixo já registrado, com 14,33 milhões de quilômetros quadrados. Esse prognóstico indica a possibilidade de redução dos custos de transporte via RMN uma vez que: i) a escolta por navios quebra-gelo, eventualmente, se tornaria necessária com menos frequência; ii) derrubaria os custos administrativos e as exigências para determinados tipos de navio classe-gelo. Assim, seria possível imaginar um cenário no qual a rota seja mais viável não apenas em termos de tempo, mas também no aspecto econômico para o transporte marítimo entre Europa e Ásia do que via Canal de Suez. Em relação à possibilidade de transporte sem a escolta de quebra-gelos, em 2017 o navio-tanque russo realizou a primeira viagem desse tipo Christophe de Margerie, ao transportar GNL da Noruega até a Coreia do Sul.

Por fim, mesmo que o transporte internacional que ligue os dois continentes não seja tão utilizado por embarcações de outros países como o almejado pela Rússia, ainda assim, a rota pode se tornar uma via vital para o transporte de petróleo e GNL para a Ásia, sobretudo devido ao crescente interesse de países como China, Japão e Coreia do Sul no gás russo. Ademais, o interesse da China em se aproximar de questões geopolíticas do Ártico, epitomizadas pelos investimentos em centros de pesquisa em países como Islândia e Noruega; em sua declaração via política oficial, em 2018 enquanto país “próximo ao Ártico”; e seu projeto Roda da Seda do Ártico, são indícios de que Pequim está disposto a promover a utilização da RMN e transformá-la em uma via marítima internacional economicamente viável e estratégica.

Por isso, conclui-se que, embora os resultados até agora alcançados pela Rússia em relação à RMN ainda estejam muito abaixo do projetado, é inegável o aumento constante de sua utilização, cuja importância econômica e comercial é de ordem tanto doméstica quanto internacional. Além disso, o aumento da temperatura no Ártico pode torná-lo, em breve, de fato competitivo em relação a outras rotas marítimas comerciais tradicionais. Por isso, enquanto parte do contexto maior da política russa para o Ártico, como plataforma de desenvolvimento econômico e de projeção internacional, a RMN pode ser entendida como uma das maiores apostas de Moscou para o século XXI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEDERAÇÃO RUSSA. The President signed executive order on national goals and strategic objectives of the Russian Federation through to 2024. President of Russia, 07 maio 2018. Disponível em: http://en.kremlin.ru/acts/news/57425. Acesso em: 07 abr. 2025

BARKHAM, Patrick. Russian tanker sails through Arctic without icebreaker for first time. The Guardian. 24 agosto 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2017/aug/24/russian-tanker-sails-arctic-without-icebreaker-first-time?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 07 abr. 2025.

BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV. History of the Northern Sea Route in JOHANNESEN; ALEXANDROV; FROLOV, et. al. Remote Sensing of Sea Ice in the Northern Sea Route: Studies and Applications. Chichester, UK: Springer/ Praxis Publishing. 2007.

BYERS, Michael. Arctic Straits in BYERS, Michael. International Law and the Arctic. Cambridge, UK/ New York: Cambridge University Press. 2013.

FEDERAÇÃO RUSSA. Merchant Shipping Code of the Russian Federation. No. 81-FZ of April 30, 1999. (+2012)

FEDERAÇÃO RUSSA. Federal Act on the internal maritime waters, territorial sea and contiguous zone of the Russian Federation. 16 julho 1998. Disponível em: https://www.un.org/depts/los/LEGISLATIONANDTREATIES/PDFFILES/RUS_1998_Act_TS.pdf. Acesso em: 07 abr. 2025.

FEDERAÇÃO RUSSA. Basics of the state policy of the Russian Federation in the Arctic for the period till 2020 and for a further perspective. 18 set. 2008.

FEDERAÇÃO RUSSA. Strategic development of the Arctic zone of the Russian Federation and the national security up to 2020. 20 fev. 2013. 

FEDERAÇÃO RUSSA. Foundations of the Russian Federation State Policy in the Arctic for the Period up to 2035. 5 mar. 2020. Tradução por: DAVIS, Anna; VEST, Ryan. Russia Maritime Studies Institute | United States Naval War College. 

FEDERAÇÃO RUSSA. Strategy for development of the Arctic zone of the Russian Federation and provision of national security for the period up to 2035 (Revised). 26 out. 2020. Emenda de 27 fev. 2023. Tradução por: DAVIS, Anna; HOLLAND, Emily. Russia Maritime Studies Institute | United States Naval War College.

GAVRILOV, Viatcheslav. Russian legislation on the Northern Sea Route navigation: scope and trends. The Polar Journal, v. 10, n. 2, pp. 273-84. https://doi.org/10.1080/2154896X.2020.1801032

GUNNARSON, Björn; MOE, Arild. Ten Years of International Shipping on the Northern Sea Route. Arctic Review on Law and Politics, v. 12, 2021, p. p4-30.

HEUZÉ, Céline; JAHN, Alexandra. The first ice-free day in the Arctic Ocean could occur before 2030. Nature Communications. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-024-54508-3. Acesso em: 07 abr. 2025.

LEKSYUTINA, Yana. Russia’s cooperation with Asian observers to the Arctic Council. The Polar Journal, v. 11, n.1, 2021, pp. 136-59, https://doi.org/10.1080/2154896X.2021.1892833

NILSEN, Thomas. Putin vows tenfold Arctic shipping by 2025. 1 março 2018. The Barents Observer. Disponível em: https://www.thebarentsobserver.com/arctic/putin-vows-tenfold-arctic-shipping-by-2025/115310. Acesso em: 07 abr. 2025.

REVISTA FAPESP. Ártico esquenta mais rápido que o resto do mundo. Set. 2022. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/artico-esquenta-mais-rapido-do-que-o-resto-do-mundo/#:~:text=O%20%C3%81rtico%20pode%20estar%20aquecendo,e%20o%20derretimento%20das%20geleiras. Acesso em: 07 abr. 2025.

RIORDON, James. Winter Sea Ice Reached New Lows in the Arctic. Earth Observatory. Disponível em: https://earthobservatory.nasa.gov/images/154122/winter-sea-ice-reached-new-lows-in-the-arctic#:~:text=Winter%20sea%20ice%20cover%20in,Ice%20Data%20Center%20(NSIDC). Acesso em: 07 abr. 2025.

RUSSIA to build icebreakers in India – media. RT News. 11 outubro 2024. Disponível em: https://www.rt.com/india/605563-russia-icebreakers-ship-india-rosatom/. Acesso em: 07 abr. 2025.

*Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). Contato: getulio.neto@unesp.br

FEDERAÇÃO RUSSA. The President signed executive order on national goals and strategic objectives of the Russian Federation through to 2024. President of Russia, 07 maio 2018. Disponível em: http://en.kremlin.ru/acts/news/57425. Acesso em: 07 abr. 2025

BARKHAM, Patrick. Russian tanker sails through Arctic without icebreaker for first time. The Guardian. 24 agosto 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2017/aug/24/russian-tanker-sails-arctic-without-icebreaker-first-time?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 07 abr. 2025.

BORODACHEV; ALEXANDROV; FROLOV. History of the Northern Sea Route in JOHANNESEN; ALEXANDROV; FROLOV, et. al. Remote Sensing of Sea Ice in the Northern Sea Route: Studies and Applications. Chichester, UK: Springer/ Praxis Publishing. 2007.

BYERS, Michael. Arctic Straits in BYERS, Michael. International Law and the Arctic. Cambridge, UK/ New York: Cambridge University Press. 2013.

FEDERAÇÃO RUSSA. Merchant Shipping Code of the Russian Federation. No. 81-FZ of April 30, 1999. (+2012)

FEDERAÇÃO RUSSA. Federal Act on the internal maritime waters, territorial sea and contiguous zone of the Russian Federation. 16 julho 1998. Disponível em: https://www.un.org/depts/los/LEGISLATIONANDTREATIES/PDFFILES/RUS_1998_Act_TS.pdf. Acesso em: 07 abr. 2025.

FEDERAÇÃO RUSSA. Basics of the state policy of the Russian Federation in the Arctic for the period till 2020 and for a further perspective. 18 set. 2008.

FEDERAÇÃO RUSSA. Strategic development of the Arctic zone of the Russian Federation and the national security up to 2020. 20 fev. 2013. 

FEDERAÇÃO RUSSA. Foundations of the Russian Federation State Policy in the Arctic for the Period up to 2035. 5 mar. 2020. Tradução por: DAVIS, Anna; VEST, Ryan. Russia Maritime Studies Institute | United States Naval War College. 

FEDERAÇÃO RUSSA. Strategy for development of the Arctic zone of the Russian Federation and provision of national security for the period up to 2035 (Revised). 26 out. 2020. Emenda de 27 fev. 2023. Tradução por: DAVIS, Anna; HOLLAND, Emily. Russia Maritime Studies Institute | United States Naval War College.

GAVRILOV, Viatcheslav. Russian legislation on the Northern Sea Route navigation: scope and trends. The Polar Journal, v. 10, n. 2, pp. 273-84. https://doi.org/10.1080/2154896X.2020.1801032

GUNNARSON, Björn; MOE, Arild. Ten Years of International Shipping on the Northern Sea Route. Arctic Review on Law and Politics, v. 12, 2021, p. p4-30.

HEUZÉ, Céline; JAHN, Alexandra. The first ice-free day in the Arctic Ocean could occur before 2030. Nature Communications. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-024-54508-3. Acesso em: 07 abr. 2025.

LEKSYUTINA, Yana. Russia’s cooperation with Asian observers to the Arctic Council. The Polar Journal, v. 11, n.1, 2021, pp. 136-59, https://doi.org/10.1080/2154896X.2021.1892833

NILSEN, Thomas. Putin vows tenfold Arctic shipping by 2025. 1 março 2018. The Barents Observer. Disponível em: https://www.thebarentsobserver.com/arctic/putin-vows-tenfold-arctic-shipping-by-2025/115310. Acesso em: 07 abr. 2025.

REVISTA FAPESP. Ártico esquenta mais rápido que o resto do mundo. Set. 2022. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/artico-esquenta-mais-rapido-do-que-o-resto-do-mundo/#:~:text=O%20%C3%81rtico%20pode%20estar%20aquecendo,e%20o%20derretimento%20das%20geleiras. Acesso em: 07 abr. 2025.

RIORDON, James. Winter Sea Ice Reached New Lows in the Arctic. Earth Observatory. Disponível em: https://earthobservatory.nasa.gov/images/154122/winter-sea-ice-reached-new-lows-in-the-arctic#:~:text=Winter%20sea%20ice%20cover%20in,Ice%20Data%20Center%20(NSIDC). Acesso em: 07 abr. 2025.

RUSSIA to build icebreakers in India – media. RT News. 11 outubro 2024. Disponível em: https://www.rt.com/india/605563-russia-icebreakers-ship-india-rosatom/. Acesso em: 07 abr. 2025.

 

*Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). Contato: getulio.neto@unesp.br

 

Fonte da imagem:

O novo governo Trump e a guerra na Ucrânia: possíveis indícios e cenários

Getúlio Alves de Almeida Neto*

Maria Eduarda Carvalho de Araujo**

 

Como citar este artigo: ALMEIDA NETO, Getúlio Alves de; ARAUJO, Maria Eduarda Carvalho de. O novo governo Trump e a guerra na Ucrânia: possíveis indícios e cenários. CIRE – Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético, 26 dez. 2024. https://doi.org/10.5281/zenodo.14552263.

DOI: 10.5281/zenodo.14552263

Acesse o artigo em PDF

 

RESUMO

A vitória de Donald Trump contra Kamala Harris para a presidência dos Estados Unidos traz novas especulações sobre o futuro da guerra na Ucrânia. Neste artigo analisamos o impacto dessa transição política, com base no histórico do primeiro mandato de Trump e suas declarações desde 2022. Utilizando análise documental e bibliográfica, examinamos as possíveis mudanças no apoio estadunidense à Ucrânia e os efeitos na dinâmica do conflito. Concluímos que a postura ambígua de Trump e seu possível foco em interesses domésticos sugerem uma redução no apoio, o que pode impactar as negociações de paz e a posição militar ucraniana.

Palavras-chave: Rússia, Estados Unidos, Donald Trump, Guerra na Ucrânia, política externa.

Introdução

A vitória do candidato Republicano Donald Trump contra a atual vice-presidente Kamala Harris, então candidata à Presidência dos Estados Unidos da América (EUA) pelo Partido Democrata, tem repercutido nas análises e projeções sobre o futuro da guerra na Ucrânia. Desde o início do conflito, os Estados Unidos têm sido o principal apoiador do governo de Volodymyr Zelensky através do envio de recursos que somam aproximadamente 175 bilhões de dólares aprovados pelo congresso estadunidense. Mais recentemente, a decisão do governo de Joe Biden de permitir o uso de mísseis de longo alcance (Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ATACMS, na sigla em inglês) contra o território russo, contribuiu para a escalada da guerra. Em resposta, a Rússia atacou a Ucrânia com míssil hipersônico de médio alcance, Oreshnik, utilizado pela primeira vez.

Desde então, tem-se especulado os motivos que levaram a Administração Biden  a autorizar o uso dos mísseis ATACMS pela Ucrânia somente após ter sido derrotado nas eleições presidenciais. Uma das principais hipóteses debatidas é que a vitória de Donald Trump acarreta uma possível diminuição do apoio estadunidense a Kiev a partir de janeiro de 2025, em razão de declarações de Trump de que “acabaria com o conflito em 24 horas”. Tal declaração poderia significar uma possível pressão sobre o governo ucraniano para ceder parte de seu território à Rússia, o que consagraria o governo de Vladimir Putin como politicamente vitorioso na guerra. Nesse sentido, uma possível explicação para a escalada da guerra a partir do uso de armamentos estadunidenses contra a Rússia é a tentativa do governo Biden de avançar alguma vitória militar no conflito e aumentar o espaço de manobra da Ucrânia – sobre influência dos interesses estadunidenses – em possíveis negociações de paz futuras. 

Portanto, neste texto, buscamos entender os primeiros indícios de uma possível mudança de postura do governo dos EUA sob Trump e projetar cenários no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia. Para isso, analisamos a postura de Donald Trump em relação à Rússia durante seu primeiro mandato, inserindo as declarações do recém-eleito presidente dos Estados Unidos desde a eclosão do conflito em fevereiro de 2022 – principalmente durante a campanha de 2024 –, e as indicações de nomes para cargos-chave na condução da política de Washington em relação à guerra. Com esta análise, temos como objetivo compreender os possíveis impactos dessa transição de governo nos desdobramentos da guerra russo-ucraniana. Argumentamos que a eleição de Donald Trump, marcada por sua postura ambígua e de priorização dos interesses domésticos dos EUA, abre possibilidades de mudanças significativas na condução da guerra na Ucrânia, especialmente no que diz respeito à vantagem militar e a condução da política da Rússia em um contexto complexo de uma ordem mundial em transição.

 O primeiro governo Trump e as relações com a Rússia

Eleito em 2016, Donald Trump foi o 45ª Presidente dos Estados Unidos entre 20 de janeiro de 2017 e de 20 de janeiro de 2021. Desde a campanha presidencial em 2016, especulou-se sobre a interferência russa nas eleições estadunidenses com objetivo de favorecer o então candidato Donald Trump. Investigações foram conduzidas inicialmente por agências de inteligência dos Estados Unidos e, em 2017, passaram a ser lideradas pelo Departamento de Justiça, que nomeou Robert Mueller, ex-diretor do FBI, como Conselheiro Especial para as investigações sobre a interferência russa nas eleições do país. Em março de 2019, Robert Mueller publicou o relatório final no qual afirmava que, apesar de não poder inocentar totalmente Donald Trump e sua equipe de campanha das acusações, não encontrou provas suficientes de que estes teriam conspirado com agentes russos e/ou tentado obstruir as investigações e a justiça estadunidense. 

O possível conluio entre a equipe de Trump com agentes russos foi alimentado, principalmente, pela suposta admiração pessoal de Trump em relação a Putin – atribuída a suas falas sobre o presidente russo – e de que Putin teria preferência por um governo republicano em detrimento da alternativa democrática para fazer avançar seus interesses em regiões que considera de sua primazia, como a Ucrânia e Geórgia. Ainda, durante a campanha presidencial, Trump afirmou o interesse de reaproximar Rússia e Estados Unidos, considerando a cooperação entre os dois países necessária no combate ao terrorismo. 

Não obstante, o que se observou sobre as relações Washington-Moscou durante o primeiro mandato de Donald Trump foi a continuidade do distanciamento entre os dois países que havia se iniciado desde a Guerra da Geórgia, em 2008, e se intensificado sobretudo após a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. Embora uma possível tendência de reaproximação entre os dois países pautadas pela alegada simpatia pessoal entre os dois líderes, as diferenças entre os interesses de política externa – em especial na Ucrânia e Síria – impediram que, de fato, pudesse haver uma reaproximação mais robusta. 

Assim, a Administração Trump ampliou as sanções impostas à Rússia durante o governo de Barack Obama em resposta à anexação da Crimeia, continuou o apoio financeiro e militar às forças ucranianas contra os separatistas pró-Rússia no contexto da Guerra do Donbass iniciada em 2014. No entanto, Donald Trump já se mostrava crítico ao fato de que os Estados Unidos eram os maiores apoiadores do governo de Kiev na ocasião, alegando não ser justo que o país carregasse essa responsabilidade mesmo estando longe do continente europeu, e que os outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) deveriam ser mais ativos na questão ucraniana do que os EUA (KELLOGG; KEITZ, 2024).

Para além da guerra na Ucrânia, as relações entre EUA e Rússia durante o primeiro governo Trump foi marcada por outros elementos de distanciamento. Trump criticou a Alemanha – e a Europa como um todo – por sua dependência energética em relação à Rússia, e impôs sanções contra o projeto Nord Stream II, gasoduto ligando a Rússia e a Alemanha. Na Síria, Washington e Moscou se mantiveram em lados opostos no contexto da guerra civil, havendo inclusive um ataque aéreo estadunidense contra mercenários russos do Grupo Wagner após estes terem avançados contra bases dos EUA (KELLOGG; KEITZ, 2024). 

O maior exemplo da contínua desconfiança estratégica entre EUA e Rússia foi a retirada unilateral dos EUA em 2018 do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), muito embora esse movimento provavelmente tenha mais a ver com a necessidade de incluir a China em um novo acordo, do que apenas uma preocupação em relação à Rússia. O tratado havia sido assinado entre Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, em 1987, e previa a eliminação dos mísseis balísticos de alcance intermediária, nucleares ou convencionais. Ao anunciar a retirada dos EUA do acordo, Trump alegou que a Rússia havia abandonado as regras do acordo há muito tempo. Em agosto de 2019, o tratado foi oficialmente encerrado entre as partes. Trump também retirou os Estados Unidos do Tratado de Céus Abertos, em 2020, seguido pela denúncia russa do mesmo tratado no ano seguinte. 

Fora da presidência, Trump acumulou uma série de declarações sobre a guerra na Ucrânia reiterando o fato de que a decisão de Vladimir Putin de invadir a Ucrânia teria sido inteligente, uma vez que a Rússia estaria incorporando uma grande extensão de território estratégico, ao passo que as sanções impostas pela Administração Biden seriam brandas; reafirmou sua boa relação pessoal com Putin; afirmou que seria capaz de encerrar o conflito em 24 horas após se reunir com Putin e Zelensky; e criticou os países europeus por não contribuírem para o auxílio à Ucrânia no mesmo montante que os Estados Unidos, novamente se referindo à proximidade geográfica dos países europeus com a Ucrânia como elemento que justificasse o auxílio, ao passo que a distância em relação ao Washington demonstraria como a questão ucraniana não é tão relevante para os interesses estadunidenses. Por fim, em debate presidencial em setembro deste ano, Trump se recusou a responder se deseja que a Ucrânia vença a guerra, afirmando que seu objetivo é acabar com o conflito e salvar vidas. Também afirmo que caso fosse o presidente dos Estados Unidos em 2022, Putin jamais teria invadido a Ucrânia.

Não obstante, não se deve tomar as declarações de Trump fora do cargo de Presidente como verdades absolutas sobre sua postura em relação à guerra na Ucrânia. Enquanto oposição ao governo Democrata, é de se esperar de qualquer candidato críticas à forma como o atual governo estadunidense tem conduzido as ações desde fevereiro de 2022. A figura de Trump, sobretudo, é marcada por falas hiperbólicas que tendem a causar um impacto entre seus apoiadores maior do que a realidade das ações práticas revelam. Em especial no contexto de campanha eleitoral, suas falas devem ser analisadas mais como um discurso ao ambiente doméstico com objetivos eleitoreiros do que uma garantia de seu posicionamento externo quando assumir o cargo.

 

Primeiros indícios

Sobre a postura inicial de Trump em relação à guerra na Ucrânia, o máximo que se pode conjecturar, por hora, baseia-se nos indícios que temos a partir dos nomeados para cargos-chave em seu governo, e considerando que o Partido Republicano terá maioria nas duas casas do Legislativo. Em primeiro lugar, J.D. Vance, então senador de Ohio e eleito vice-presidente na chapa de Donald Trump, é um ávido crítico da ajuda militar dos EUA à Ucrânia, em especial devido aos custos financeiros envolvidos. Durante a campanha, Vance defendeu a necessidade de negociar com o governo de Vladimir Putin, caracterizando-o como um adversário e competidor, mas não como um inimigo dos Estados Unidos. Ainda, Vance defende uma zona desmilitarizada entre Rússia e Ucrânia e adoção do status de neutralidade pela Ucrânia, que se absteria de sua intenção de aderir à OTAN. Outro nome é do senador da Flórida, Marco Rubio, apontado para Secretário de Estado, que deu declarações defendendo que a Ucrânia busque um acordo negociado com Moscou, ao invés de tentar recuperar todo o território ocupado por tropas russas. Em abril, Marco Rubio foi um dos 15 senadores a votar contra o pacote de ajuda de 61 bilhões de dólares à Ucrânia. Em setembro, afirmou que: “não está do lado da Rússia”, mas que “a realidade é que o modo como a guerra na Ucrânia vai terminar é com um acordo negociado”.  Em 6 de novembro, Marco Rubio declarou: “Eu acho que os ucranianos foram incrivelmente corajosos e fortes ao enfrentar a Rússia, mas, no final das contas, o que estamos financiando aqui é uma guerra em um impasse, e ela precisa ser trazida a uma conclusão, ou aquele país será jogado para trás 100 anos.”

Para o cargo de Secretário da Defesa, Trump nomeou Pete Hegseth, veterano do Exército e apresentador da Fox News. Hegseth tem sido crítico da OTAN, considerando os aliados europeus dos Estados Unidos “ultrapassados, superados belicamente, invadidos e  impotentes” em seu livro The War on Warriors: Behind the Betrayal of the Men Who Keep Us Free. Além disso, em entrevista ao Podcast “Shawn Ryan Show”, em 7 de novembro de 2024,  Hegseth afirma ser contra uma intervenção direta dos Estados Unidos na guerra da Ucrânia em razão da possível escalada nuclear do conflito. O ex-militar, que atuou no Afeganistão e no Iraque, afirmou que os Estados Unidos desperdiçaram 20 anos de dinheiro nestes países, e que estão seguindo os mesmos passos na Ucrânia.

Por fim, um dos nomes mais importantes que indica um possível posicionamento do governo Trump em relação à guerra na Ucrânia é Keith Kellogg, nomeado como enviado especial para a Ucrânia e Rússia, cargo criado por Trump. Kellog é um tenente-general aposentado do Exército estadunidense que foi chefe de gabinete do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca durante o primeiro mandato de Trump de 2017 a 2021, e Conselheiro de Segurança Nacional do então vice-presidente Mike Pence. A princípio, acredita-se que o plano a ser apresentado por Kellogg para a solução do conflito tem suas bases no artigo publicado por ele, em conjunto com Fred Fleitz, pela organização America First Policy Institute, criada em 2021 para promover a agenda de políticas trumpistas  nos Estados Unidos. No texto, intitulado America First, Russia and Ukraine, os autores criticam a Administração Biden pela ocorrência e prolongamento da guerra, afirmando que o conflito poderia ter sido evitado, e que acabou se transformando numa guerra de procuração dos Estados Unidos contra a Rússia sem uma estratégia definida dos objetivos a serem alcançados. Consequentemente, os Estados Unidos se abstiveram de promover qualquer tentativa de cessar-fogo e negociações de paz.

Kellogg e Fleitz constatam a improvável vitória ucraniana no campo militar, afirmam que o envio contínuo de armamentos dos EUA para a guerra está drenando os estoques de armas estadunidenses, e que o governo dos Estados Unidos tem outras prioridades domésticas mais importantes do que os interesses na guerra da Ucrânia. Sobretudo, afirmam que o prolongamento da guerra colabora para a crescente aproximação russa com a Coreia do Norte, o Irã e a China. 

Ao final do artigo, os autores propõem os seguintes pontos que poderiam levar ao fim da guerra: 1) os Estados Unidos continuariam a armar a Ucrânia e fortalecê-la a fim de evitar novos avanços russos. No entanto, essa ajuda estaria condicionada à participação ucraniana em negociações de paz com a Rússia; 2) a fim de convencer Putin a participar das negociações, os líderes da OTAN deveriam oferecer o adiamento indefinido da entrada da Ucrânia na aliança; 3) Moscou poderia receber algum alívio das sanções em troca de cumprir um cessar-fogo, estabelecer uma zona desmilitarizada e participar de negociações de paz; 3) a Ucrânia não seria obrigada a renunciar ao objetivo de recuperar seu território, mas teria de aceitar que essa passa por uma solução diplomática e não bélica e que dificilmente ocorreria enquanto Putin estiver no poder; 4) os Estados Unidos e seus aliados ocidentais só suspenderiam por completo as sanções contra a Rússia e normalizariam as relações com Moscou após um acordo de paz final assinado pelas partes que fosse aceitável para Kiev; 5) a reconstrução da Ucrânia seria financiada através de taxas aplicadas sobre as vendas de energia russa. 

Ademais, suas relações com líderes europeus acentuam a dubiedade de seus objetivos. Em fevereiro, o presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu a possibilidade de a Europa enviar tropas à Ucrânia após discussões entre líderes europeus em Paris. Na ocasião, a proposta foi rejeitada pela OTAN e outros atores. No entanto, o esforço de Trump por um cessar-fogo reacendeu este debate. Autoridades francesas enfatizaram que a iniciativa dependeria de algum tipo de apoio dos EUA, mas permanece incerto se o governo Trump estaria disposto a considerar tal medida. Assim, a possível postura de priorização dos interesses domésticos dos EUA parece ser um fator que adicionaria complexidade às possibilidades de atuação do Ocidente na guerra em curso. Essa postura reflete-se nas relações com líderes europeus e com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Durante a reabertura de Nôtre-Dame, em 7 de dezembro, Trump afirmou a Zelensky e a Macron de que não apoiava a adesão da Ucrânia à OTAN, argumentando que a Europa deveria assumir o papel principal na defesa e no apoio à Ucrânia.

A despeito das intenções do novo governo Trump de iniciar negociações de paz com a Rússia, é necessário ponderar o posicionamento russo neste contexto. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin não estaria disposto a congelar as linhas atuais de combate, e só aceitaria participar de negociações quando seus objetivos forem atingidos. Nesse caso, as demandas russas contemplam, atualmente: 1) o abandono das ambições ucranianas d e entrar na OTAN; 2) retirada das tropas ucranianas das quatro zonas ocupadas parcialmente pela Rússia: Donetsk, Luhansk, Kherson and Zaporizhzhia; 3) reconhecimento Crimeia enquanto parte da Federação Russa.

 

Possíveis cenários

A partir do exposto, consideramos que quatro cenários podem se desenvolver a partir de 2025:

1 – Trump cessa por completo o apoio à Ucrânia e as tropas russas continuam a avançar sobre território ucraniano antes de iniciarem negociações de paz, com o objetivo de obter maior quantidade de território possível;

2 – Trump cessa por completo o apoio à Ucrânia, há o congelamento do conflito, e Rússia e Ucrânia aceitam participar de negociações de paz; 

3 – Trump propõe o congelamento do conflito, mas Rússia e Ucrânia não aceitam as condições e o conflito continua nos moldes atuais;

4 – Não há o início de negociações de paz e a guerra continua a escalar;

Em qualquer um destes cenários, no entanto, o status da Ucrânia em relação à OTAN é a questão fundamental para a solução do conflito. A expansão da aliança militar ocidental para o leste é o tema mais sensível para a segurança russa desde o processo de dissolução do Pacto de Varsóvia e da União Soviética. Muito antes das falas de Trump e de outros membros do seu governo, essa percepção já era clara para muitos dentro do próprio Estados Unidos da América, como é o caso do teórico John Mearsheimer, crítico desde os anos 1990 da contínua incorporação de países que anteriormente compunham a URSS, sobretudo da perspectiva de adesão da Ucrânia ao bloco.

No entanto, a incerteza sobre as intenções de ambos os lados sobre esta questão será, provavelmente, a principal dificuldade em um possível processo de negociação de paz. Do lado russo, qualquer solução momentânea e que não deixe explícito em acordo oficial e escrito o status de neutralidade e de renúncia do pleito ucraniano de entrar para a OTAN é insatisfatória. Afinal, é de interesse primário russo evitar que o mesmo cenário se repita após as promessas feitas à Gorbachev, no final da Guerra Fria, de “nenhum centímetro para o leste”. Já do lado ucraniano e da OTAN, há o receio de que garantir a neutralidade ucraniana e a renúncia do país aderir à aliança irá possibilitar a Putin continuar com o ímpeto expansionista e, futuramente, tentar controlar todo o território ucraniano. 

 

Considerações finais

Após a eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos, muito tem se especulado sobre o futuro posicionamento do governo estadunidense em relação à guerra da Ucrânia, e a possibilidade de, após quase três anos de conflito, terem início negociações de paz entre Moscou e Kiev. A forma como Trump expressa seus posicionamentos, ao mesmo tempo categóricos e hiperbólicos, mas também dúbios e sem maiores detalhes, colabora para que diferentes interpretações e análises sejam feitas acerca do que esperar de seu segundo mandato como presidente. Contudo, afirmações de que Trump será capaz de pôr um fim imediato à guerra são ingênuas e carecem de uma visão holística que engloba os interesses não somente de Donald Trump e de seus apoiadores, mas também os interesses russos, ucranianos e a compreensão sistêmica de uma ordem mundial em processo de transição.

Naturalmente, a postura de Trump de priorizar os interesses estadunidenses domésticos em detrimento uma presença maior externamente, epitomizada pelo discurso America First, e de seu círculo de conselheiros mais próximos, em especial o enviado Keith Kellogg, faz com que seja possível conjecturar uma diferença na condução da guerra em relação ao governo de Joe Biden. Nesse sentido, a simples menção a negociações de paz traz um indício mais promissor para o fim do conflito do que a postura atual estadunidense de auxílio financeiro e bélico constante à Ucrânia, a tentativa de isolar Putin e sancionar pesadamente a economia russa. 

Assim, é possível afirmar que o governo Trump pode, por iniciativa própria, pressionar a Ucrânia e a Rússia ao início às negociações de paz. Isso não implica, no entanto, no sucesso destas negociações, muito menos em acreditar na possibilidade de resolução do conflito em 24 horas como propagado por Trump. Enquanto divergências estratégicas entre as partes não forem resolvidas – sobretudo no que tange à disputa territorial e a participação ou não-participação da Ucrânia na OTAN, o conflito continuará a se estender, podendo se tornar ainda mais complexo, uma vez que surgem discussões entre os membros da OTAN sobre a possibilidade de enviar tropas europeias em solo ucraniano em uma iniciativa de manutenção de paz, que não configuraria uma operação da própria OTAN. Estes aspectos e divergências contribuem para a permanência e aprofundamento do impasse militar que, por hora, parece mais favorável ao avanço russo do que a capacidade de defesa ucraniana. Por sua vez, a vantagem atual russa pode implicar em uma maior necessidade da Ucrânia de renunciar a seu território do que Moscou fazer concessões. 

Consequentemente, Putin parece ter a vantagem de uma vitória política em uma possível resolução diplomática do conflito. Ironicamente, esse cenário é o que torna mais improvável o abandono completo do futuro governo Trump em relação a Kiev, como aventado por aqueles que argumentam que Trump, por admiração pessoal por Putin e seu pouco interesse na continuidade de auxílio estadunidense à Ucrânia, cessaria, de imediato, o apoio de Washington. No caso de uma vitória política de Putin, pode-se afirmar se tratar de uma grande derrota dos Estados Unidos em um conflito com traços de transição hegemônica, que poderia sacramentar o fim da hegemonia estadunidense e da ordem internacional liberal característica do período pós-Guerra Fria.

 

Referências

CILLIZZA, Chris. Donald Turmp just can’t stop Praising Vladimir Putin. March 28, 2022. CNN. Disponível em: https://edition.cnn.com/2022/03/28/politics/trump-putin-ukraine-russia-smart/index.html. Acesso em:  23 dez. 2024.

CHOTINER, Isaac. Why John Mearsheimer Blames the U.S. for the Crisis in Ukraine. March 1, 2022. The New Yorker. Disponível em: https://www.newyorker.com/news/q-and-a/why-john-mearsheimer-blames-the-us-for-the-crisis-in-ukraine. Acesso em: 23 dez. 2024. 

DIAMOND, Jeremy. Timeline: Donald Trump’s praise for Vladimir Putin. July 29, 2016. CNN. Disponível em: https://edition.cnn.com/2016/07/28/politics/donald-trump-vladimir-putin-quotes/index.html. Acesso em: 23 dez. 2024.

MADHANI, Aamer; LONG, Colleen; MILLER, Zeke; et. al. Biden authorizes Ukraine to use US-supplied longer range missiles for deeper strikes inside Russia. November 18, 2024. Associated Press. Disponível em: https://apnews.com/article/biden-ukraine-long-range-weapons-russia-52d424158182de2044ecc8bfcf011f9c. Acesso em: 23 dez. 2024.

MARQUEZ, Alexandra. JD Vance: Negotiating with Russia is a ‘necessary part’ of ending October 27, 2024. NBC News. Ukraine War. Disponível em: https://www.nbcnews.com/politics/2024-election/jd-vance-negotiating-russia-necessary-ending-ukraine-war-rcna177479. Acesso em: 23 dez. 2024.

MASTERS, Jonathan; MERROW, Will. How Much U.S. Aid is Going to Ukraine? September 27, 2024. Council on Foreign Relations. Disponível em: https://www.cfr.org/article/how-much-us-aid-going-ukraine. Acesso em: 23 dez. 2024. 

NORMAN, Laurence; LYTVYNENKO, Jane; MEICHTRY, Stacy. Trump to Europe: Overseeing a Ukraine Cease-Fire Would Be Your Job. December 13, 2024. Disponível em: https://www.wsj.com/world/europe/trump-ukraine-russia-war-plan-8901d78b. Acesso em: 23 dez. 2024.

OITO PONTOS-CHAVE do relatório de Robert Mueller sobre a investigação contra Donald Trump. 18 de abril de 2019. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/04/18/pontos-chave-do-relatorio-de-robert-mueller-sobre-a-investigacao-contra-donald-trump.ghtml. Acesso em: 23 dez. 2024.

PUTIN RULES OUT ‘Freezing’ War in Ukraine, Top Spokesman Says. November 20, 2024. The Moscow Times. Disponível em: https://www.themoscowtimes.com/2024/11/20/putin-rules-out-freezing-war-in-ukraine-top-spokesman-says-a87077. Acesso em: 23 dez. 2024.

ROTH, Andrew. Trump refuses to say whether he wants Ukraine to win war against Russia. 11 September, 2024. The Guardian. Disponível em: https://www.theguardian.com/us-news/article/2024/sep/11/us-presidential-debate-donald-trump-ukraine-war. Acesso em: 23 dez. 2024.

SARADZHYAN, Simon; FLOOD, Angelina. Marco Rubio Russia and Ukraine. November 15, 2024. Russia Matters. Disponível em: https://www.russiamatters.org/analysis/marco-rubio-russia-and-ukraine. Acesso em: 23 dez. 2024.

SEGRILLO, Angelo. A expansão da Otan e a Rússia: desvelando uma “unlove story” do pós-Guerra Fria à luz de fontes primárias. Tempo, v. 30, n. 1, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tem/a/r73Gtq4ZGVRsf4S7CRnhq6B/?lang=pt. Acesso em: Acesso em: 23 dez. 2024. 

SPIRLET, Thibault; JANKOWICZ, Mia. Trump’s Pentagon pick criticized US involvement in Ukraine, said Putin probably wouldn’t go ‘much further’ if he wins. November 13, 2024. Business Insider. Disponível em: https://www.businessinsider.com/trump-pentagon-pick-pete-hegseth-criticized-us-involvement-ukraine-aid-2024-11. Acesso em: 23 dez. 2024.

STARCHAK, Maxim. Russia’s Hypersonic Missile Attack on Ukraine Was an Attempt at Blackmail. November 29, 2024. Carnegie Politika. Disponível em: https://carnegieendowment.org/russia-eurasia/politika/2024/11/russia-oreshnik-nuclear-blackmail?lang=en. Acesso em: 23 dez. 2024. 

WATCH: TRUMP SAYS as President He’d Settle Ukraine War Within 24 Hours. May 10, 2023. Wall Street Journal. https://www.wsj.com/video/watch-trump-says-as-president-hed-settle-ukraine-war-within-24-hours/0BCA9F18-D3BF-43DA-9220-C13587EAEDF2?embed=true. Acesso em: 23 dez. 2024.

 

 

*Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). Contato: getulio.neto@unesp.br

**Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP). Contato: mec.araujo@unesp.br