Os primeiros dias de Trump e a questão israelense: Netanyahu está satisfeito?

O Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o Ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, aprovaram na terça-feira (24/01) a construção e planejamento de cerca de 2.500 novas unidades habitacionais na Cisjordânia, os chamados assentamentos. Em termos globais, foram aprovadas a comercialização de terrenos para a construção imediata de 909 novas casas, bem como a aceleração do planejamento nos comitês responsáveis para mais 1.642 casas.
De acordo com um comunicado de imprensa do Ministério da Defesa, a maioria das unidades está localizada dentro de blocos de assentamentos, enquanto cerca de 100 delas estão localizadas no assentamento de Beit El – que é apoiado pelo embaixador estadunidense em Israel e amigo pessoal de Donald Trump, David Friedman – e outros em Migron. No entanto, ao observarmos os locais planejados podemos perceber que a previsão de construção se estende para além dos atuais blocos de assentamentos.
Desde a eleição de Trump em novembro de 2016, os colonos e apoiadores da política de assentamentos em Israel (principalmente a direita política, representada pelo partido Likud) têm comemorado, esperando que a nova política externa de Trump apoie a continuação dos assentamentos e futura anexação total dos territórios ocupados. Todavia, uma hora após a divulgação do boletim de imprensa diário da Casa Branca nos Estados Unidos, quando parecia que a decisão de Israel de planejar e construir 2.500 novas unidades de moradia nos assentamentos seria ignorada, um repórter perguntou ao porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, qual a resposta da administração Trump a esse movimento. Para a infelicidade e decepção dos colonos, que estavam em euforia, Spicer não congratulou a construção dos assentamentos. No entanto, o porta-voz também não condenou tal decisão. Ele respondeu apenas que o presidente Donald Trump irá discutir a questão da construção de assentamentos com o Primeiro-ministro Netanyahu em sua reunião em Washington no próximo mês.
Poucos dias depois de Trump assumir o cargo, a impressão de que o presidente e seu povo percebem a questão Israel-Palestina como uma das mais sensíveis em sua agenda está se tornando clara. Nos dois briefings que Spicer realizou desde que Trump tomou posse no dia 20 de janeiro, ele foi questionado seis vezes sobre questões envolvendo o processo de paz entre israelenses e palestinos. Em cada caso, Spicer deu respostas lacônicas e fez tudo o que pôde para seguir com a exposição e avançar para o próximo tópico.
Questões envolvendo a temática Israel-Palestina também estiveram presentes em audiências de confirmação da seleção de Trump para o Secretário de Estado, Rex Tillerson, o Secretário de Defesa, James Mattis, e o próximo embaixador da ONU, Nikki Haley. Contrariamente aos discursos que ouvimos durante a campanha e como já havíamos abordado aqui no Eris, nenhum deles falava como um eleitor da direita religiosa israelense, nem mesmo como um eleitor de direita do Likud. Mattis disse que para ele a capital de Israel é Tel Aviv, Tillerson pontuou com uma afirmação fraca que a Resolução 2334 da ONU – que condena os assentamentos israelenses na Cisjordânia e exige o fim deles – não era "útil", e Haley adotou a solução de dois Estados e disse que apoia a política bipartidária de longa data que se opõe à construção de assentamentos.
Isso não quer dizer que não houve mudança na Casa Branca em relação aos assentamentos e à questão Israel-Palestina. Com Barack Obama, a decisão de construir 2.500 unidades habitacionais nos assentamentos teria levado a condenações públicas mais duras, o que não houve com Trump. Mas a realidade é que, ao contrário do entusiasmo inicial dos israelenses pró-assentamentos, Trump não vai brigar diretamente para que eles existam e aumentem.
A Casa Branca de Trump não acha que os assentamentos sejam legais, do ponto de vista do direito internacional, mas prefere discutir o assunto através de canais privados. A margem de manobra de Netanyahu em Washington sobre a Questão Palestina, sem dúvida, cresceu, mas está longe de ser a bonança que o lobby de colonos em Jerusalém estava sonhando. Com isso não é certo que sonhos de anexação sejam práticos. Pelo menos não neste momento.
O gabinete do Primeiro-ministro em Israel se recusou a responder na terça-feira (24/01) se Netanyahu tinha informado Trump da decisão de aprovar essa construção maciça nos assentamentos. No dia anterior (23/01), em uma reunião da facção do Likud na Knesset (parlamento), Netanyahu sublinhou aos parlamentares do Likud que um erro em relação ao Trump no próximo período poderia causar danos a Israel. Ele falou dos estreitos laços de confiança que ele e Trump têm um com o outro e advertiu contra ações impensadas que poderiam levar o relacionamento em uma direção negativa.
Depois de tais declarações, é difícil acreditar que Netanyahu surpreendeu o presidente estadunidense. Pode-se supor que ele explicou a Trump sua situação política em termos de pressão da direita e pediu alguma margem de manobra. Desta vez, ele conseguiu. Mas a margem de manobra não é ilimitada.
Em menos de duas semanas, quando Netanyahu chegar à Casa Branca, Trump estará esperando para ouvir como e o que Netanyahu pretende fazer para ajudá-lo a realizar o que ele chamou de "o negócio final" para acabar com a "guerra interminável" entre Israel e a Palestina.
Karina Stange Calandrin é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.
Imagem: White House. By Karen Neoh.

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