[elementor-template id="5531"]

Um hegemon ultrapassado? Os EUA no conflito em Gaza 2023/2024 e os aspectos sistêmicos de poder no Oriente Médio

Rodrigo Augusto Duarte Amaral* 

Se compreendermos os EUA como ator hegemônico do sistema internacional desde o século XX, devemos conceber suas ações internacionais em direção à manutenção da sua posição privilegiada na ordem internacional. Suas ações intrusivas afetam os rumos do conflito no Oriente Médio (AMARAL, 2022).

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA desenvolveram um papel dominante no Oriente Médio motivados pela presença de reservas de petróleo e um aliado fundamental do Estado de Israel. A região se tornou espaço vital para o desenvolvimento de uma nova zona de influência, cuja contenção soviética orientou a base estratégica do país até 1990. Foi no pós-Guerra Fria que a “promoção de democracia” e desenvolvimento de condições para o pleno funcionamento do livre-mercado, passou a dominar o discurso estratégico dos EUA para o Oriente Médio. Primeiro na administração Clinton, que enfatizou a reforma econômica como prelúdio para a reforma política. Depois, sob a administração de G. W. Bush, quando após o 11 de setembro de 2001, a democratização no Oriente Médio emergiu como um objetivo explícito da política dos EUA com ênfase sem precedentes. (MARKAKIS, 2016). A necessidade de democratizar o Iraque, conter o islamismo político “antidemocrático” iraniano, valorizar a democracia Israelense, invadir, reconstruir e democratizar o Iraque e o Afeganistão, entre outras expressões.

No contexto contemporâneo, apoiar incondicionalmente Israel contra o Hamas apenas reforça a tradicional postura de sustentar politicamente e militarmente Israel a todo custo. Nas palavras do presidente Joe Biden (2023a):

“Discutimos [Biden e Netanyahu] como democracias, como Israel e os Estados Unidos são mais fortes e mais seguras quando agimos de acordo com o Estado de direito […] Nós garantiremos que os judeus e o estado democrático de Israel possa se defender hoje, amanhã, conforme sempre garantimos” (BIDEN, 2023a, tradução nossa).

Trata-se de uma postura intrusiva constante na história dos EUA no Oriente Médio. Conduzir, ou ao menos afetar o curso dos conflitos regionais, como fez indiretamente na Guerra do Afeganistão em 1980, na Guerra Irã-Iraque em 1980, na contenção israelense as intifadas palestinas desde 1990, na Guerra da Síria em 2014 e diretamente na Guerra do Golfo 1990, na Guerra do Afeganistão de 2001 e do Iraque 2003 e no combate ao Estado Islâmico desde 2015.

No entanto, se fazer presente militarmente, ou fornecer armas, não garante a segurança regional do Oriente Médio. Na verdade, o que assistimos é o oposto. A potencialização da conflitualidade. E a percepção global dos EUA como ator intervencionista em prejuízo a ordem regional é cada vez mais evidente.

Em mais de seis meses de conflito, não se trata apenas de considerar os EUA inábeis enquanto ator mediador para soluções pacíficas para Gaza, mas aquele que endossa o mesmo, enfatizando seu papel histórico de aliado e inabalável apoiador do sionismo israelense. Nem mesmo as mais de 33 mil vítimas civis (13 mil crianças) palestinas dos milhares de bombardeios e agressões militares israelenses foram capazes de alterar o posicionamento norte-americano. Único Estado a apoiar sem exceções os atentados israelenses em Gaza. Ainda como maior potência da ordem internacional, os EUA são o baluarte que asseguram as ações militares irrestritas de Israel em Gaza, aceitando bombardeamentos indiscriminados, evitando referenciar o direito internacional humanitário na sua justificativa da guerra, desconsiderando as vítimas civis palestinas, financiando diretamente Israel e participando indiretamente do conflito ao atacar alvos aliados ao Hamas, como no caso dos Houthis. Isso evidencia a responsabilidade norte-americana na permanência do conflito. Por isso, há quem questione a hegemonia norte-americana no Oriente Médio.

Dentro dos EUA, a insatisfação popular quanto à postura dos EUA diante da guerra em Gaza é evidente. Segundo pesquisa conduzida pelo PewResearch Center, ainda que exista prevalência no apoio popular norte-americano à Israel contra o Hamas, metade da população entende que a forma como Israel conduz a guerra é inaceitável. Sobre a influência dos EUA na guerra, há opiniões divergentes. Metade dos entrevistados são favoráveis (36%) e opõem-se (34%) ao envio de ajuda militar a Israel (o resto não tem uma opinião clara). Mas a opinião pública inclina-se mais fortemente a favor da prestação de ajuda humanitária aos civis palestinos em Gaza, com 50% a favor e apenas 19% contra. (SILVER et al., 2024). Ajuda essa que, por parte dos EUA, apenas foi ativada 150 dias após o início do conflito.

No âmbito da comunidade internacional,a China se posicionou de forma incisiva apelando por um senso comum global pelo cessar-fogo em Gaza e a escalada do conflito para outras localidades no Oriente Médio. O pronunciamento chinês veio dias após os ataques norte-americanos e britânicos contra alvos Houthis no Iêmen depois que o grupo atacou navios no Mar Vermelho. No veto dos EUA ao cessar-fogo em Gaza em fevereiro de 2024, os chineses ainda acusaram a responsabilidade dos EUA na continuidade no conflito dando sinal verde para continuidade do massacre em Gaza. É importante perceber que os atores que mais atingiram linhas diplomáticas foram atores do sul global. Com especial destaque para intermediadores regionais do Oriente Médio realizando o papel de intermediação e diálogo, como Egito, Jordânia e Catar. Países em desenvolvimento do sul global apresentando denúncias contra os crimes de guerra e humanitários perpetrados por Israel, como África do Sul e Brasil. O posicionamento brasileiro é destacado, visto a proatividade brasileira ao propor uma resolução no âmbito da sua presidência no Conselho de Segurança da ONU para o cessar-fogo imediato e o estabelecimento de corredores humanitários, vetado pelos EUA. Assim como o apoio fornecido a acusação de crime de genocídio à Israel contra a população palestina em Gaza no âmbito da Corte Internacional de Justiça. Tais manifestações diplomáticas revelam posturas plenamente opostas à fiel postura confirmativa dos EUA à Israel em Gaza.

Mesmo se abstendo da resolução do Conselho de Segurança da ONU de 24 de março de 2024 que estabeleceu um cessar-fogo provisório durante o Ramadan, os EUA não deram braço a torcer sobre o que para eles é mais importante: a condenação dos atos terroristas do Hamas[1]. No ato da abstenção, a embaixadora Linda Thomas-Greenfield afirmou: “não concordamos com todos os termos da resolução (…) alguns fatores chave foram ignorados, como nossa demanda por adicionar condenações ao Hamas”. No entanto, a reação imediata do Primeiro Ministro israelense Netanyahu foi negativa, afirmando que o ato de abstenção prejudicaria o principal objetivo contra o Hamas e a recuperação de israelenses sequestrados. Ainda tomou uma atitude diplomática, informando que não enviaria uma delegação de alto nível a Washington, DC, conforme vinha fazendo ao longo da guerra. Em resposta, O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA estavam “desapontados” com a decisão de Netanyahu. O episódio demonstra desorganização e falta de comunicação entre os dois principais aliados na guerra em Gaza.

No mínimo, este ruído exemplifica como os EUA parecem estar renunciando ao controle da situação, pressionado domesticamente por sua população e globalmente por outros membros da comunidade internacional.

Ao recapitular a presença norte-americana no Oriente Médio no século XXI, podemos dizer que os processos históricos revelam o desfavorecimento da sua condição hegemônica na região. Se o projeto dos anos 2000 se pautou na premissa de construir uma região liberal e democrática, sob a alcunha de combate ao terrorismo global, os EUA intensificaram as rivalidades regionais e impulsionaram a emergência de grupos insurgentes anti-ocidentais das suas mais variadas expressões. A década de 2010 no Oriente Médio, marcada por revoltas e revoluções que no ocidente se chamou de Primavera Árabe, se provou mais uma expressão de insatisfação da condição socioeconômica dos Estados da região, do que propriamente um levante democrático generalizado. O que se assiste na terceira década deste século é mais uma expressão manifesta de reatividade à presença ocidental histórica e seus proxies, como Israel. A reação do Hamas em 2023 à circunstância insustentável de vida em Gaza, determinada por um acordo desenhado pelos EUA em 1993 em Oslo, é um grito contra a ordem desigual e exploratória vigente naquele território.

Desde o início da segunda intifada, em setembro de 2000 até 7 de outubro de 2023, já 11 mil palestinos foram mortos, diretamente ou indiretamente por, consequência do conflito Israel-Palestina (ORCHA, 2024). Às vésperas do conflito, Gaza abrigava 2 milhões de habitantes, sendo quase 1,4 milhões de refugiados frutos da criação do estado de Israel em 1948, território altamente populoso, cuja taxa de desemprego atingia aproximadamente 47% e de insegurança alimentar 68,5% da população. Além disso, 95% da água estava imprópria para consumo humano e 80% do esgoto é despejado no mar, devido à falta de saneamento básico (DOS SANTOS, 2023). Resumindo, um espaço de extrema vulnerabilidade para o exercício da vida humana.

A insurgência de 7 de outubro restitui a insatisfação em Gaza mediante uma autodeterminação de facto palestina negada. No seu topo, indica o desastre da hegemonia norte-americana no Oriente Médio. Hegemonia esta que talvez nunca se completou, visto que os norte-americanos nunca atingiram o suposto objetivo de tornar a região em um espaço liberal-democrático nos moldes ocidentais. Ainda sim, a força dos EUA é o fator que “autoriza” Israel a agir historicamente de forma irrestrita em Gaza (e nos territórios ocupados na Cisjordânia). Portanto, afirmar categoricamente que a hegemonia norte-americana se esfacelou é equivocado. Talvez a concepção gramsciana de período de transição hegemônica (COX, 1981) seja qualificada para explicar o momentum dos EUA no sistema internacional. Há sim atores questionadores da hegemonia norte-americana: China, Rússia, Irã e outros. Todavia, além disso, e talvez mais relevante, existe dentro do próprio sistema-mundo ocidental manifestações de insatisfação quanto ao modelo capitalista-liberal conduzido pelos EUA. Expressões da inabilidade global de gerenciar a crise ambiental global, bem como as injustiças e violências na periferia do sistema, tal qual visto em Gaza.

[1] Para mais informações sobre a relação dos EUA com o Hamas, e a designação como grupo “terrorista” ver o texto: “Os EUA no conflito em Gaza 2023/2024: a preservação da relação especial com Israel”, deste mesmo autor, presente neste site.

*Rodrigo Augusto Duarte Amaral, Doutor em Relações Internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP), Professor de Relações Internacionais na PUCSP, membro do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUCSP (GECI).

Imagem: Bandeira dos EUA e mapa do Oriente Médio. Por: Middle East Political and Economic Institute.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Rodrigo Augusto Duarte. Dinâmicas de poder dos EUA por um Iraque pós-Saddam: a articulação entre o governo norte-americano e as elites do poder iraquiano na década de 1990. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). 2022.

BIDEN, Joe. (2023a). USA. The White House. RemarksbyPresident Biden on the TerroristAttacks in Israel. Washington DC, USA. 10thoctober 2023. Disponível em <www.whitehouse.gov/briefing-room/speeches-remarks/2023/10/10/remarks-by-president-biden-on-the-terrorist-attacks-in-israel-2/ > Acesso em 28/03/2024.

COX, Robert. Social Forces, States and World Orders: BeyondinternationalrelationsTheory, Millennium. 10:2, 1981. Pp. 126-155.

DOS SANTOS, Isabela Agostinelli. Morte e vida palestina: a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). 2023.

MARKAKIS, Dionysis. US DemocracyPromotion in the Middle East: The PersuitofHegemony. London; New York: Routledge. 2016.

UNITED NATIONS OFFICE FOR THE COORDINATION OF HUMANITARIAN AFFAIRS – OCCUPIED PALESTINIAN TERRITORY (ORHA). Data on casualties. 2024. Disponível em <www.ochaopt.org/data/casualties> Acesso em 28/03/2024.

SILVER, Laura atall. Majority in U.S. Say Israel HasValidReasons for Fighting; Fewer Say the SameAbout Hamas 57% express some sympathy for bothIsraelis and Palestinians. PewResearch Center.March 21, 2024.

Não há segurança, tampouco humanitarismo, na Faixa de Gaza

Isabela Agostinelli*

 

Em 30 de janeiro de 2024, diversos veículos de comunicação, nacionais e internacionais, divulgaram a notícia de que, em Gaza, crianças estavam comendo grama, ração de animais e bebendo água poluída para tentar sobreviver. Em meio aos constantes bombardeios israelenses à Faixa de Gaza desde o fatídico 7 de outubro de 2023, a situação humanitária da região, que antes já era extremamente precária, atingiu níveis sem precedentes.

Este ensaio propõe uma avaliação e reflexão crítica da situação humanitária de Gaza, com vistas a elucidar de que forma os argumentos ditos humanitaristas de Israel, antes mesmo do 07/10, são, em essência, medidas de controle populacional que visam à eliminação gradual da população nativa, ao impedir o desenvolvimento da vida em Gaza.

O argumento central é de que, embora tenha atingido níveis sem precedentes na história da Questão Palestina, a atual situação humanitária em Gaza não é uma crise ou algo conjuntural, mas uma política deliberada e sistemática de privação da vida e produção da morte de uma determinada população, com base em argumentos de segurança nacional e contraterrorismo.

A situação humanitária em Gaza

Os dados mais recentes – de 15 de fevereiro de 2024 – apontam que, desde o 7/10, mais de 28,5 mil palestinos de Gaza foram mortos pelas ações israelenses, incluindo 12 mil crianças; mais de 67 mil feridos; 7 mil desaparecidos; 85% dos 2,3 milhões de habitantes foram forçadamente deslocados; cerca de 360 casos de doenças infecciosas foram identificados; 122 jornalistas e 101 trabalhadores humanitários das Nações Unidas foram mortos; entre tantos outros dados alarmantes.

Em termos de infraestrutura e recursos, aspectos-chave da dominação israelense em Gaza após o “desengajamento” de 2005[1], os números não são menos surpreendentes: mais de 360 mil unidades residenciais (60% do total), 392 unidades educacionais e 297 instalações religiosas foram destruídas ou danificadas; apenas 11 dos 35 hospitais estão funcionando parcialmente; 123 ambulâncias foram atacadas; houve casos recorrentes de cortes nas redes de telecomunicação (telefone e internet); há cortes no fornecimento de energia elétrica e o impedimento na entrada de combustível; o acesso à água é de menos de 1,5 litro por dia, por pessoa, enquanto o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a sobrevivência é de 3 litros por dia.

Restam poucas dúvidas de que se trata de um cenário de terra arrasada. Para além das mortes diretamente causadas pelos bombardeios, a destruição da infraestrutura e a restrição da entrada de alimentos, água e medicamentos reduzem drasticamente a possibilidade de sobrevivência em Gaza.

De-desenvolvimento e dependência: a assistência humanitária em Gaza

A sobrevivência em Gaza é, há décadas, limitada. Muito antes do 7/10, a vida em Gaza mais se assemelhava a uma morte lenta. A ajuda humanitária, por sua vez, também já enfrentava diversos limites. Aliás, desde a criação do Estado de Israel em 1948, a população palestina de Gaza se tornou altamente dependente da ajuda humanitária internacional.

Na ocasião da Nakba (1948), dos 700 mil palestinos expulsos de suas terras, 200 mil se refugiaram na região de Gaza, que na época contava com cerca de 80 mil habitantes. Desde então, o território que conhecemos como Faixa de Gaza – delimitado pelas fronteiras do Acordo de Armistício de 1949 – é majoritariamente composto por refugiados palestinos (Filiu, 2014).

De 1948 até 1967, quando se deu início à ocupação militar israelense dos territórios palestinos, Gaza ficou sob administração egípcia, em uma espécie de regime de tutela. Esse momento ficou marcado por um “duplo governo”: de um lado, as autoridades egípcias, que controlavam as fronteiras e organizavam a segurança pública por meio do policiamento; de outro, as organizações internacionais de assistência humanitária, que ofereciam serviços públicos como educação e saúde para os refugiados. Isto porque, quando passou a ser composta em dois terços por refugiados, Gaza começou a necessitar de ajuda em diversos setores da sociedade. As agências internacionais de ajuda humanitária, nesse cenário, se tornaram as principais fontes de assistência para a população de Gaza (Feldman, 2007; 2008).

A mais importante dessas organizações é a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), criada em 1950 para oferecer serviços aos refugiados palestinos nos diversos campos instaurados, inclusive aqueles sediados na Faixa de Gaza, até que uma solução política para o problema do refúgio e o direito de retorno fosse alcançada. Como essa solução nunca se materializou na realidade, a UNRWA continua em atividade. Os serviços prestados incluem, por exemplo, fornecimento de alimentos básicos (como farinha e cereais), serviços educacionais e instalações de saúde.

Importante notar que, antes mesmo do 07/10, 80% dos habitantes de Gaza dependiam da assistência humanitária internacional e dois terços viviam em situação de pobreza. Pode-se dizer que essa dependência crônica dos habitantes de Gaza em relação à ajuda humanitária internacional não é um efeito colateral da ocupação israelense, mas uma política que dá sustento a ela.

Desde 1967, Israel passou a implementar nos Territórios Palestinos Ocupados (TPO) o chamado de-desenvolvimento, conceito elaborado pela economista Sara Roy (1987, p. 33, tradução nossa) e que significa “o desmembramento deliberado, sistemático e progressivo de uma economia nativa por uma [economia] dominante, onde o potencial econômico – e por extensão, social – não é apenas distorcido, mas negado”. Em outras palavras, trata-se de uma política que mina qualquer possibilidade de desenvolvimento social e econômico de uma sociedade, colocando-a em um elo de dependência crônica em relação à economia do poder ocupante.

No caso de Gaza, o de-desenvolvimento e a dependência da ajuda humanitária internacional atingiram proporções catastróficas a partir de 2007, quando se deu início ao bloqueio israelense da Faixa de Gaza.

Segurança x Humanitarismo

É comum encontrar análises sobre a situação humanitária da Faixa de Gaza que adotam o ano de 2007 como o ponto de partida da catastrofização da vida na região. De fato, o bloqueio instaurado há mais de 16 anos por Israel e Egito transformou Gaza em uma prisão a céu aberto. Desde então, o nexo segurança-humanitarismo vem sendo mobilizado de forma recorrente pelas autoridades israelenses para justificar uma série de medidas de controle populacional que transformam o cotidiano em uma espécie de morte lenta aos palestinos de Gaza (Winter, 2016).

Uma dimensão importante do funcionamento do bloqueio israelense é a justificativa de que ele estaria sendo feito para combater o terrorismo do Hamas. Porém, ao classificar a Faixa de Gaza como uma entidade hostil, Israel acabou equalizando a população ao Hamas e, dessa forma, conduzindo uma punição coletiva. Com isso, a grande maioria que sofre com essas atrocidades é a população civil, e não os “terroristas” que o Estado de Israel promete eliminar a todo custo.

Após o 07/10, as diversas medidas impostas pelas forças israelenses – forte restrição na mobilidade e cortes na eletricidade e comunicação -, somadas aos bombardeios, fizeram com que o Israel fosse acusado de praticar crimes de guerra e até mesmo genocídio, conforme argumentado pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em janeiro de 2024. Já organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch e a israelense B’Tselem, apontaram que a fome em Gaza está sendo usada como arma de guerra pelos israelenses. Em novembro de 2023, cerca de 93% da população da Faixa de Gaza estava sofrendo de insegurança alimentar aguda.

No dia 14 de dezembro de 2023, as autoridades israelenses afirmaram estar realizando “esforços significativos para aliviar a situação humanitária em Gaza”, entre eles: fortalecer os serviços médicos; facilitar o estabelecimento de hospitais de campo em Gaza; facilitar a entrada de água e o concerto de instalações destruídas durante as hostilidades; empregar pausas humanitárias regulares; designar uma zona humanitária ao sul de Gaza; entre outras.

Apesar das promessas de alívio anunciadas pelas autoridades israelenses, críticas contundentes foram levantadas por jornalistas, analistas internacionais e trabalhadores de organizações humanitárias em relação às ações efetivas e à continuidade dos problemas humanitários em Gaza.

Isto porque estas mesmas autoridades são as responsáveis pela destruição de dezenas de hospitais e por restringir a entrada de alimento e medicamento para os feridos da guerra. Além disso, em 19 de fevereiro de 2024, soldados israelenses atiraram em palestinos que estavam se aproximando dos caminhões que levavam comida para a região, cuja população, como já mencionado, está sofrendo diariamente com a falta de alimentos e água.

Logo, é imprescindível questionar que tipo de humanitarismo é anunciado por Israel e respaldado pela comunidade internacional. Esta mesma “comunidade internacional” (liderada por EUA e União Europeia), que se diz preocupada com os direitos humanos, cortou as doações à UNRWA após acusações sem evidências comprovadas, por parte de Israel, de que a organização teria funcionários ligados ao Hamas. Ironicamente, quando Israel foi levado à CIJ por acusação de genocídio, nenhum ator desta comunidade internacional suspendeu suas relações comerciais com o país.

Enquanto isso, a Faixa de Gaza vai se tornando paulatinamente uma terra arrasada. Como argumenta Lisa Hajjar, Gaza passou de uma prisão a céu aberto para uma cena de crime. O nível de destruição é tamanho que a Faixa de Gaza se tornará inabitável por diversas gerações futuras. Israel tem inundado os túneis com esgoto, destruído as áreas de agricultura e utilizado fósforo branco. Além de atingir a população local, essas medidas afetam o solo, a vida vegetal e os animais da região, no que seria uma destruição do próprio ecossistema de Gaza.

Até o momento, ao contrário do que foi prometido, Israel não atingiu nenhum de seus objetivos de segurança: destruir o Hamas e resgatar todos os reféns israelenses sequestrados pelo grupo no 7/10. Portanto, qualquer justificativa humanista anunciada pelo Estado de Israel e seus aliados deve ser analisada com cautela. Afinal, não há segurança, tampouco humanitarismo na Faixa de Gaza.

 

[1] Em agosto de 2005, o Estado de Israel retirou todos os assentamentos israelenses da Faixa de Gaza, argumentando que não mais ocupava aquela região e que Gaza seria “autônoma”. Ao mesmo tempo, Israel continuou controlando as fronteiras terrestres, o espaço aéreo e o espaço marítimo. Portanto, pode-se dizer que Israel não se desengajou realmente de Gaza, mas sim reorientou as suas formas de controle, agora feito à distância. Descrevo e analiso em detalhes essas formas de controle em minha tese de doutorado “Morte e vida palestina: a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza” (2023), disponível em: https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/1f80edc2-7cdf-437c-8b89-60361d5577f0/content.

 

*Isabela Agostinelli é pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU). Doutora em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação “San Tiago Dantas” (Unesp, Unicamp, PUC-SP). Pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI) da PUC-SP. Especialista em estudos sobre Palestina/Israel, com foco na Faixa de Gaza. Seus interesses de pesquisa incluem estudos sobre colonialismo e pós-colonialismo, violência e conflitos na sociedade internacional contemporânea, segurança internacional e estudos sobre Oriente Médio.

Imagem: February 3, 2024, UNRWA-run Sheikh Radwan Clinic, destroyed during Israeli bombardment on Gaza City. Por: The New Arab/Getty.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FELDMAN, Ilana. Governing Gaza: Bureaucracy, authority, and the work of rule, 1917– 1967. Duke University Press, 2007.

FELDMAN, Ilana. Mercy Trains And Ration Rolls: Between Government And Humanitarianism In Gaza (1948–67). In: NAGUIB, Nefissa; OKKENHAUG, Inger Marie (Ed.s). Interpreting welfare and relief in the Middle East. Brill, 2008ª.

FILIU, Jean-Pierre. Gaza: A History. Oxford University Press, 2014.

ROY, Sara. The Gaza Strip: A case of economic de-development. Journal of Palestine Studies, v. 17, n. 1, p. 56-88, 1987.

SANTOS, Isabela Agostinelli dos. Morte e vida palestina: a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) – UNESP/UNICAMP/PUC-SP, Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, 2023.

WINTER, Yves. The siege of Gaza: Spatial violence, humanitarian strategies, and the biopolitics of punishment. Constellations, v. 23, n. 2, p. 308-319, 2016.

Uma tragédia anunciada: os ataques à Faixa de Gaza e o genocídio palestino

*Carolina Antunes Condé de Lima

Abordar os acontecimentos que começaram no dia 07 de outubro de 2023 na Faixa de Gaza com a apresentação de números e fatos não dá conta da dimensão da tragédia humana que os palestinos estão vivendo. Todos os dias somos assombrados com imagens de corpos sem vida e de destruição, histórias de fome e sede, de desespero e desamparo, ao mesmo tempo que chegam imagens de torturas, saques, humilhações e crimes contra a humanidade praticados pelo exército de ocupação israelense.

De acordo com o Artigo 7 do Estatuto de Roma, são considerados crimes contra a humanidade a “difusão ou ataque sistemático contra qualquer população civil” com o intuito de assassinato, extermínio, escravização, deportação ou transferência forçada de uma população, encarceramento ou severa privação da liberdade física, tortura, violências sexuais de vários tipos, perseguição de um grupo identificável por razões políticas, raciais, nacionais, étnicas, culturais, religiosas e de gênero, desaparecimento forçado de pessoas, apartheid, e outros atos desumanos que, intencionalmente, causam sofrimento, ferimentos contra a saúde física e mental (ICC, 2018).

Com base nos crimes cometidos desde o início desta  última ofensiva, a África do Sul apresentou à Corte Internacional de Justiça (CIJ) no dia 29 de dezembro de 2023, acusação formal contra o Estado de Israel pelo crime de genocídio. Este foi reconhecido pela ONU via Resolução 260 A, de dezembro de 1948, em que se  estabelece  genocídio como  todo “ato cometido com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, em tempos de guerra ou  de paz (UN, 1948). Os juristas sul-africanos listaram inúmeras ações dos últimos quatro meses para justificarem sua ação.

Infelizmente, contudo, esses episódios não tiveram início em outubro de 2023. O texto que segue tem a intenção de remontar esse processo. Desse modo, o texto resume brevemente o cenário atual e, em seguida, apresenta questões históricas que precedem os acontecimentos dos últimos cinco meses e nos ajudam a colocar em perspectiva diversas análises e ações referentes a esses ataques.

Era manhã de sábado, 07 de outubro de 2023, quando começaram a chegar as notícias do ataque do Hamas a cidades israelenses perto da barreira com a Faixa de Gaza, ao sul do país. Na ocasião, 1139 pessoas foram mortas e outras 240 foram feitas reféns pelo grupo palestino. O governo israelense, desde as primeiras horas após o ataque, acusou o Hamas de cometer crimes de guerra, como tortura, estupros e mutilações, acusações negadas pelos membros do grupo. Desde então já se passaram mais de quatro meses de ataques israelenses que vêm causando a destruição de prédios residenciais, hospitais, infraestrutura básica, sítios arqueológicos e monumentos históricos. Ao norte da Faixa de Gaza foi imposta uma política de destruição total, conhecida como “aparar a grama”, que tem como consequência tanto a devastação do território como o genocídio histórico.

A Faixa de Gaza, um dos locais de maior densidade populacional do mundo, se viu ainda mais sufocada com a ida de mais de um milhão de palestinos do norte da região em direção a Rafah, cidade mais ao sul. A situação na fronteira sul teve uma piora considerável após os ataques israelenses a Rafah, declarada zona segura em outubro, que tiveram início na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2024. Esses são vistos por especialistas como parte de um plano maior do governo israelense de depopular a Faixa de Gaza por completo, o que abriria espaço para a reocupação da região pelo Estado de Israel.

Antes dessa nova fase de terror, a vida na Faixa de Gaza já era bastante difícil. A população vive sob cerco desde 2007 e era alvo constante de ações militares, racionamento de água, energia e comida, além de ser impedida de circular livremente – ambas as saídas, tanto a de Rafah como a de Erez há anos ficam fechadas por longos períodos e, quando abertas, a passagem é bastante restrita. O cerco a Gaza teve início após o Hamas vencer as eleições representativas da região em 2006, o que não foi aceito pelo governo israelense. No ano seguinte, a Faixa de Gaza foi fechada para o mundo, tornando-a uma grande prisão a céu aberto.

Para entender a situação em Gaza e em toda a Palestina ocupada é preciso voltar na história e reviver um instrumento de dominação bastante conhecido: o colonialismo. Processo histórico que teve início com a expansão europeia no século XV, a qual permitiu a invasão, conquista e exploração dos territórios não-europeus e a violência contra corpos não-brancos desde a imposição dessa organização de mundo. A mesma lógica é reproduzida hoje na Palestina ocupada: em que o Estado de Israel é o colonizador, e a população nativa palestina é a colonizada.

Parte importante da colonização é a percepção de que a colônia é um espaço no qual reina o estado de exceção, dessa forma, ali é permitido que qualquer ato seja praticado, sem que haja julgamento de valor moral sobre o mesmo (Mbembe, 2016). A isso soma-se o recurso da objetificação do colonizado (Fanon, 2021; Said, 2007), a partir do qual as populações não-brancas são relacionadas a animais, doenças ou objetos que podem ser eliminados. A consequência é a percepção de que alguns corpos são descartáveis e indignos de comoção e solidariedade internacional quando grandes crises os afetam. Isso tem impacto direto, por exemplo, na maneira como a grande mídia, nacional ou internacional, aborda questões que envolvem populações não-brancas.

O racismo é elemento central de todo processo de colonização, empregado para justificar violências cotidianas. A violência subjetiva, impulsionada pelos ideais de superioridade racial do branco frente às demais populações do mundo, abre espaço para a violência física contra corpos e territórios. Outra característica é a ocupação e transformação do espaço, com a imposição de barreiras físicas que restringem o movimento livre das populações colonizadas, o que cria espaços restritos aos colonizados. Na Palestina, os checkpoints são uma realidade constante, assim como o impedimento da livre circulação e a construção de barreiras físicas de separação.

A colonização da Palestina pode ser configurada como um colonialismo de substituição e assentamento, ou seja, o objetivo central é deslocar e/ou eliminar a população nativa para que o território seja ocupado pelos colonos, tais quais assistimos nas colonizações da América do Norte, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo. Há, contudo, um elemento central para entender a colonização dos territórios palestinos: o sionismo.

Esse movimento político surgiu no centro da comunidade judaica europeia no final do século XIX e sua vertente mais conhecida, capitaneada por Theodor Herzl, defendia a criação de um Estado nacional no território palestino como solução para a perseguição e o antissemitismo milenar dos quais judeus eram vítimas. O sionismo de Herzl partia da premissa de que a colonização deveria ser por e para os judeus, com o deslocamento da população palestina.

Essa característica é determinante para entender a dinâmica de violência que se perpetua na região desde antes da inauguração do Estado de Israel, em maio de 1948. Durante o Mandato Britânico da Palestina (1920-1948), o número de imigrantes judeus na região cresceu de 1.806 imigrantes em 1919 para 8.223 em 1920 (Basel, 2007, p. 215-217). Na década seguinte, entre 1919-1939, 364.519 judeus imigraram para os territórios da Palestina, passando a representar um terço da população na região (no começo do Mandato Britânico, representavam menos de 10% da população total) (Basel, 2007).

Soma-se a isso o processo de compra de terras por agências sionistas de incentivo a imigração, como a Jewish Colonization Association, que passaram a adquirir terras por todo o território palestino com o objetivo de criar cinturões de propriedades que seriam repassadas para o cultivo para aqueles que tivessem interesse em imigrar para o território (Lockman, 2012; Wolfe, 2012). O contexto acabou se tornando um barril de pólvora e deu início a anos de violências entre a população autóctone e aqueles que chegavam com fins de colonização. Desse modo, diferentemente do disseminado, podemos notar que o conflito entre palestinos e israelenses não começa em 1948, mas trinta anos antes, quando o Estado de Israel era apenas uma ideia.

Dentre todos os anos de conflito, dois momentos são os mais conhecidos no contexto pré-1948: a Revolta Árabe de 1936-1939 e o Plano Dalet, iniciado após a  Resolução 181 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1947, que recomendou a partilha do território do Mandato Britânico (Bose, 2017; Pappé, 2006).

A Revolta Árabe de 1936-1939 foi a primeira revolta armada organizada que os palestinos fizeram desde o início do processo de colonização sionista e, desde sua eclosão, tem sido importante referência para os movimentos e mobilizações nacionais palestinos. Em poucos meses, aproximadamente mil árabes já haviam sido mortos pelas forças britânicas. Entre 1937 e 1939, 8.958 palestinos foram presos em campos de detenção (Barat; Chomsky; Pappé, 2016; Bose, 2017). Os britânicos iniciaram um processo punitivo de destruição de casas de insurgentes palestinos, prática utilizada pelo exército israelense até hoje. Em 1939, britânicos e colonos sionistas saíram vitoriosos, além de minar as lideranças políticas palestinas, o que contribuiu para a implementação do plano de partilha em 1947.

Entre a decisão pela partilha, em novembro de 1947, e a instituição do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, uma série de ataques promovidos por ambos os lados resultou na morte de centenas de civis. No contexto do Plano Dalet um dos acontecimentos mais marcantes foi o massacre de Deir Yassin pela milícia sionista Irgun (mais tarde usada como base para formação do exército israelense), que resultou no assassinato de 254 palestinos.

A Nakba, conhecida como a tragédia palestina, representa não apenas a fundação do Estado de Israel e a expulsão de quase oitocentos mil palestinos de suas terras, mas o início de uma história de conquista de território pela violência e a ocupação ilegal de territórios palestinos pelo Estado de Israel (Pappé, 2006). Além disso, a Nakba marca a criação do território da Faixa de Gaza. Com uma extensão de 360 km², até o início das ofensivas de outubro de 2023, a região era lar de quase dois milhões de palestinos, sendo que, aproximadamente, 70% deles são descendentes de refugiados de 1948 (Finkelstein, 2018; Salamanca, 2011).

A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Estado de Israel após a Guerra de 1967 e permaneceu com presença militar e de colonos israelenses na região até 2005 quando, após decisão unilateral do então Primeiro Ministro Ariel Sharon, foi ordenada a saída de todos os ocupantes. A retirada, contudo, não significou o fim da ocupação. As fronteiras externas da Faixa de Gaza ficaram controladas pelo exército israelense, responsável por regular a entrada e saída de pessoas e bens; além do Estado de Israel ser o responsável pelo acesso a água, energia e internet na região. Essa situação se agravou após a vitória do Hamas nas eleições de 2006, o que levou à instauração do bloqueio à Faixa de Gaza que perdura desde 2007.

Após o bloqueio, ocorreram as chamadas Operação Chumbo Grosso (2008-2009), Operação Pilar Defensivo (2012), Operação Margem Protetora (2014) e Operação Guardiões do Muro (2021). Até o início da atual escalada de conflito, a operação de 2014, também conhecida como Guerra dos 51 dias, era tida como a mais destrutiva desde a Guerra de 1967: foram mais de dois mil mortos e onze mil feridos, de acordo com dados da ONU. Em comparação com os números das operações de 2014, a perda humana nas ofensivas iniciadas em outubro de 2023 é mais de dez vezes maior.

Quando colocados em perspectiva, portanto, fica claro que os atuais acontecimentos são uma tragédia anunciada, decorrente de uma política de Estado vigente desde antes do próprio surgimento do Estado israelense em 1948. Há de se apontar as tentativas de alguns membros da sociedade internacional de responsabilizar Israel pelo que vem acontecendo nos últimos quatro meses, como a acusação de genocídio contra o país feita pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, os rompimentos de relações diplomáticas feitos por alguns países e as constantes e expressivas manifestações civis realizadas em vários países do mundo pedindo pelo cessar fogo.

Apesar de todas as manifestações de apoio aos palestinos e os pedidos pelo fim do bombardeio que já matou quase trinta mil pessoas (um terço delas, crianças) o fim das atrocidades cometidas em Gaza não parece próximo. Há poucos dias, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu afirmou que a ofensiva contra Gaza não vai cessar até que a “vitória completa” seja alcançada. O ataque ao campo de refugiados de Rafah, na madrugada do dia 12 de fevereiro (horário do Brasil) e a política de fome e morte imposta aos palestinos que ali estão é uma clara demonstração de que o plano de Netanyahu é destruir a tudo e a todos. O nome disso é genocídio.

*Carolina Antunes Condé de Lima é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós Graduação em RI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP), bolsista CAPES e pesquisadora no IARAS-GEDES.

Imagem: Destruição em Gaza após ataques israelenses em Outubro de 2023. Por: Wilimedia Commons.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Aid airdrop kills five people in Gaza after parachute fails. Al Jazeera. 08/03/2024. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2024/3/8/aid-airdrop-kills-five-gaza-israel-war-hunger-famine. Acesso em: 08 de março de 2024.

Bose, Sumatra. Contested Lands: Israel-Palestine, Kashmir, Bosnia, Cyprus, and Sry Lanka. Cambridge: Harvard University Press, 2007.

Checkpoints. Al Jazeera, 2018. Disponível em: https://interactive.aljazeera.com/aje/2018/commuting-through-israeli-checkpoints/index.html. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Fanon, Franz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

Gaza: UN experts decry bombing of hospitals and schools as crimes against humanity, call for prevention of genocide. United Nations, 19/10/2023. Disponível em: https://www.un.org/unispal/document/gaza-un-experts-decry-bombing-of-hospitals-and-schools-as-crimes-against-humanity-call-for-prevention-of-genocide/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Hamas says October 7 attack was a ‘necessary step’, admits to ‘some faults’. Al Jazeera, 21/01/2024. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2024/1/21/hamas-says-october-7-attack-was-a-necessary-step-admits-to-some-faults. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Israel’s war on Gaza: List of key events, day 154. Al Jazeera. 08/03/2024. Disponível em:      https://www.aljazeera.com/news/2024/3/8/israels-war-on-gaza-list-of-key-events-day-154. Acesso em: 08 de março de 2024.

Johnson, Adam; Ali, Othman. Coverage of Gaza War in the New York Times and other major newspapers heavily favored Israel, analysis shows. The Intercept, 09/01/2024. Disponível em: https://theintercept.com/2024/01/09/newspapers-israel-palestine-bias-new-york-times/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

León, Lucas Pordeus. Entenda o que é sionismo, movimento que dá origem ao Estado de Israel. Agência Brasil. 25/10/2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-10/entenda-o-que-e-sionismo-movimento-que-da-origem-ao-estado-de-israel. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Lima, Carolina Antunes Condé de. A legitimação das intervenções humanitárias no Sistema-Mundo Capitalista. In: Dossiê de Conflitos Contemporâneos, Vol. 2, n. 3, 2021b.

Lima, Carolina Antunes Condé de. Da Faixa de Gaza à Sheikh Jarrah: colonialismo de assentamento e apartheid na Palestina. In: Dossiê de Conflitos Contemporâneos, Vol. 2, n. 2, 2021a.

Lima, Carolina Antunes Condé de; Oliveira, Lucas Ramos de. A Crise de Refugiados Ucranianos: um retrato da linha de cor na comoção internacional. ERIS, 22/04/2022. Disponível em: https://gedes-unesp.org/linha-de-cor-na-comocao-internacional/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Lockman, Zachary. Land, Labor and the Logic of Zionism: A critical engagement with Gershon Shafir. Settler Colonial Studies, Vol 2, No 1, p. 9-38, 2012.

Mbembe, Achile. Necropolítica. Arte & Ensaios, [S.l.], n. 32, mar. 2016. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993.

Mehdi, E. Plan Dalet, the Israeli Military Plan For the Colonization of Palestine. Medium, 2023. Disponível em: https://medium.com/lessons-from-history/plan-dalet-the-israeli-military-plan-for-the-colonization-of-palestine-ba704c378f0a. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Mousa, Aseel; Graham-Harrison, Emma. Gaza activists tells of beating and abuse in Israeli detention. The Guardian, 21/01/2024. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2024/jan/21/gaza-activist-tells-of-beating-and-abuse-in-israeli-detention>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Movement and Access in the West Bank – August 2023. United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs – Occupied Palestinian Territories, 25/08/2023. Disponível em: https://www.ochaopt.org/2023-movement. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Nashed, Mat. What’s behind Israel’s threat to attack Rafah?. Al Jazeera. 16/02/2024. Disponível em: https://www.aljazeera.com/features/2024/2/16/whats-behind-israels-threat-to-attack-rafah. Acesso em: 08 de março de 2024.

Nassar, Nagib Mohammed Abdalla. Raízes do terror em Palestina : Deir Yassin uma página inesquecível nos massacres sionistas. UnB Notícias, 2023. Disponivel em: https://noticias.unb.br/artigos-main/6957-raizes-do-terror-em-palestina-deir-yassin-uma-pagina-inesquecivel-nos-massacres-sionistas. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Pappé, Ilan. The Ethnic Cleasing of Palestine. Oxford: Oneworld, 2006.

Rigdon, Renee; O’Krunk, Amy. Maps show the extreme population density in Gaza. CNN, 11/10/2023. Disponível em: https://edition.cnn.com/2023/10/11/middleeast/maps-population-density-gaza-israel-dg/index.html. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Saber, Indlieb Farazi. A ‘cultural genocide’: Which of Gaza’s heritage sites have been destroyed?. Al Jazeera, 14/01/2024. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2024/1/14/a-cultural-genocide-which-of-gazas-heritage-sites-have-been-destroyed. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Said, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Scalabrini, Daniela. Faixa de Gaza é ‘prisão a céu aberto’, descreve especialista. Portal G1 Mundo, 10/10/2023. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/10/faixa-de-gaza-e-prisao-a-ceu-aberto-descreve-especialista.ghtml. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Siddiq, Usaid; Osgood, Brian. Israel’s war on Gaza updates: Calls to stave off Rafah offensive grow. Al Jazeera, 12/02/2024. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/liveblog/2024/2/12/israels-war-on-gaza-live-israel-planning-rafah-assault-as-talks-continue. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Taylor, Adam. With strikes targeting rockets and tunnels, the Israeli tactic of ‘mowing the grass’ returns to Gaza. The Washington Post, 14/05/2021. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/2021/05/14/israel-gaza-history/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Tharor, Ishaan. Netanyahu’s delusional, deadly quest for ‘total victory’. The Washington Post. 09/02/2024. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/2024/02/09/netanyahu-israel-total-victory-hamas-palestine/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

The Separation Barrier. B’T Selem. 11/11/2017. Disponível em: https://www.btselem.org/separation_barrier. Acesso em: 12 de fevereiro de 2024.

Wolfe, Patrick. Purchase by Other Means: The Palestine Nakba and Zionism’s Conquest of Economics. Settler Colonial Studies, Vol 2, No 1, p. 133-171, 2012.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem cessar-fogo, sem negociação: a atuação do Eixo da Resistência após o 07 de Outubro

*Karime Cheaito

Em 07 de Outubro de 2023, organizações palestinas, sob a liderança do Hamas, romperam as cercas da Faixa de Gaza, invadiram e atacaram o território sul de Israel, como uma reação que refletia o esgotamento das políticas coloniais de apartheid, violência e abusos de poder perpetrados pelos sucessivos governos israelenses. Imediatamente, o governo de Israel, sob o comando de Benjamin Netanyahu, declarou guerra. No momento em que este ensaio é escrito, 26.900 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e crianças, e 1.139 israelenses foram mortos pelos ataques do Hamas (dados de 31/01/2024). Após uma denúncia realizada pela África do Sul, Israel está sendo julgado pela Corte Internacional de Justiça por crime de genocídio.

Analisa-se nesta investigação a atuação do Eixo da Resistência na conjuntura médio-oriental após a reação do Hamas contra Israel em 07/10. Para isso, buscou-se compreender como o bloco tem, historicamente, se estruturado e atuado, apesar das divergências entre seus membros.

O Eixo da Resistência é, atualmente, liderado pelo Irã, que possui o governo sírio como parceiro estratégico e político (Munareto; Silva, 2023). Além disso, inclui grupos armados não-estatais da Síria; o Hamas e a Jihad Islâmica, nos territórios palestinos; o Hezbollah, no Líbano; as Unidades de Mobilização Popular do Iraque; e os Houthis (ou Ansar Allah), no Iêmen, que foram os últimos a ingressarem no Eixo (em 2015) e, em comparação com os demais membros, possuem um auxílio limitado advindo do Irã (Juneau, 2016).

Embora o 07/10 tenha explicitado a sua capacidade de atuação no Oriente Médio, o bloco não surgiu nesta data. De acordo com El Husseini (2010), sua origem data de 2003, quando o Iraque foi invadido pelos EUA, no contexto da Guerra ao Terror, e teve como fundador o comandante iraniano Qassem Soleimani, da Força Quds, unidade de elite do grupo paramilitar Guarda Revolucionária. Soleimani visava construir uma rede com aliados regionais e, desde o início, defendeu que cada parte fosse autossuficiente.

Apesar das divergências entre seus membros – como se evidenciou na guerra da Síria – o Eixo se consolidou e tem mantido sua unidade, primordialmente, por conta do alinhamento de seus objetivos e bases ideológicas. Todos os membros, apesar de suas pautas locais, possuem uma agenda antissionista e anti-EUA. A ideia de um aliado comum – o Irã – e, principalmente, um inimigo comum – Israel e os EUA – tem garantido sua coesão e existência.

Nesse sentido, embora o Irã seja responsável por fornecer a maior parte dos armamentos e treinamentos aos membros do bloco, cada ator domina suas próprias técnicas, estratégias e táticas e atua a partir de seus próprios objetivos. Por esse motivo, a pesquisadora Amal Saad afirma: o Eixo da Resistência é mais do que um conjunto de milícias apoiadas pelo Irã. Nessa mesma linha, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano afirmou: “Não temos nenhum papel na tomada de decisões em nome de qualquer partido na região”. Essa percepção também foi partilhada por Brian Katz, ex-funcionário do governo dos EUA: os aliados não-estatais do Irã “não são simplesmente representantes iranianos. Pelo contrário, tornaram-se um conjunto de atores político-militares maduros, ideologicamente alinhados, militarmente interdependentes, comprometidos com a defesa mútua”.

Essa perspectiva confronta as análises que identificam esses atores como proxies iranianos (Levitt, 2015; 2022; Khan; Zhaoying, 2020). Para El Husseini (2002) e Saad-Ghorayeb (2002), as relações entre o Irã e os demais membros do Eixo não são tão unificadas e interdependentes. Cada organização está, em primeira estância, conectada aos seus objetivos políticos, majoritariamente nacionalistas e pragmáticos. Após Soleimani ter sido assassinado pelos EUA em 2020, seu sucessor, Esmail Qaani, buscou descentralizar ainda mais o bloco, delegando cada vez mais autonomia às unidades locais e aos seus comandantes no que se refere às decisões táticas e operacionais.

Apesar da autonomia, a identificação de Israel como um inimigo próximo e o apoio militar entre os seus membros têm garantido a sua unidade. Em seu interior, enquanto o Irã fornece assistência militar e financeira ao Hezbollah, Hamas, Houthis e demais grupos iraquianos, a Síria tem oferecido seu território como rota de transporte ao Hezbollah, que tem auxiliado na formação técnica e militar dos demais membros.

O Eixo da Resistência se originou com uma perspectiva a longo prazo e tem se desenvolvido numa coligação em tempos de guerra, como se evidenciou em 2013, durante a guerra da Síria (com exceção do Hamas, que se posicionou contrário ao governo de Bashar al-Assad)  e no Iraque em 2014, na luta contra o ISIS ou DAESH. Nessas ocasiões, esses grupos puderam aprofundar suas capacidades militares, principalmente no que concerne aos combates urbanos, e aperfeiçoaram a lógica estratégica de sua aliança.

O 07/10 representou um importante marco ao simbolizar a primeira vez que uma coligação composta majoritariamente por atores não-estatais se envolveu diretamente em um conflito em apoio a outro ator não-estatal: o Hamas. Nos últimos 4 meses, o Hezbollah, os Houthis e grupos iraquianos e sírios lançaram ataques contra alvos israelenses e estadunidenses em apoio aos palestinos com um objetivo comum: forçar Israel a um cessar-fogo em Gaza.

Como manifestado publicamente pelo Hezbollah e pelos Houthis, tanto na fronteira com Israel como no Mar Vermelho, nenhuma negociação ocorrerá enquanto não houver cessar-fogo nos territórios palestinos. Desde o dia 08/10, três frentes de batalhas foram travadas: 1) entre Hezbollah e Israel; 2) os ataques dos grupos iraquianos contra bases estadunidenses no Iraque e na Síria; 3) os ataques dos Houthis contra navios de carga no Mar Vermelho.

Com o assassinato de Saleh al-Arouri – funcionário do alto escalão do Hamas – em Beirute no dia 02/01/24, nota-se uma escalada em toda região. O atentado representou o ataque israelense mais significativo no Líbano desde a guerra de 2006. Em resposta, o Hezbollah atacou uma das principais bases israelenses de vigilância aérea. Nos dias seguintes, a Resistência Islâmica do Iraque enviou drones para atacar bases dos EUA na Síria e no Iraque e atacou a cidade de Haifa. No Mar Vermelho, os Houthis intensificaram suas ações contra navios suspeitos de terem ligações com Israel e o Irã capturou um navio comercial no Golfo de Omã.

A atuação dos Houthis fez com que os EUA e o Reino Unido conduzissem uma série de ataques militares no Iêmen desde 11/01, fato este que tem aumentado as preocupações de escalada do conflito para uma guerra regional, pois é pouco provável que os ataques contra membros do bloco gerem um recuo, visto a identidade, os objetivos e princípios dos atores envolvidos.

Cabe destacar que o combate não tem ocorrido apenas no terreno físico. O campo de batalha tem se estendido para as redes sociais e impactado a opinião pública mundial, que tem debatido de forma inédita – em relação à dimensão da repercussão – os crimes de guerra cometidos por Israel.

Como enunciado por Nasrallah em 11/11/2023: “O mais importante neste momento é a mudança na opinião mundial em relação a Israel (…). Este desenvolvimento é do interesse da Resistência, do seu projeto e da população de Gaza (…) Com o tempo, a pressão aumenta sobre o inimigo” Desse modo, a maneira como a causa palestina reascendeu internacionalmente a partir do 07/10 pode ser identificada como uma vitória para os objetivos do Eixo da Resistência, principalmente por causa das críticas e acusações que têm sido desenvolvidas contra Israel.

Embora ainda não possamos dimensionar o impacto da opinião pública nos desdobramentos de uma solução para o conflito, o Eixo tem se evidenciado com elevado nível de coordenação e tem feito com que os EUA e seus aliados enfrentem desafios na dinâmica desses combates. Sua evolução para uma aliança, apesar da autonomia de atuação dos seus membros, está coordenada e centrada nas concepções de segurança coletiva e dissuasão alargada. A sua evolução e atual popularidade regional – manifestada publicamente – exige uma mudança fundamental na maneira como o Ocidente tem analisado as dinâmicas médio-orientais e, principalmente, suas possíveis alterações de poderes.

 

* Karime Cheaito é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), mestre em Estudos Estratégicos (INEST/UFF) e membra do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI-PUCSP) e do Laboratório Nexus (INEST/UFF).

Imagem: cartazes retratando o fundador do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, o ex-comandante da Força Quds do Irã, Qassem Suleimani, e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em Sana’a, Iêmen, 4 de janeiro de 2024. Por: Mohammed Hamoud/Getty Images

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKBARZADEH, Shahram. Why does Iran need Hizbullah?: Iran and Hizbullah. The Muslim World, v. 106, n. 1, p. 127–140, 2016.

EL HUSSEINI, Rola. Hezbollah and the Axis of Refusal: Hamas, Iran and Syria. Third World Quarterly, v.31, n. 5, p. 803-815, 2010

JUNEAU, Thomas. Iran’s policy towards the Houthis in Yemen: a limited return on a modest investment. International Affairs, v. 92, n. 3, p. 647–663, 2016.

KHAN, Akbar; ZHAOYING, Han. Iran-Hezbollah Alliance Reconsidered: What Contributes to the Survival of State-Proxy Alliance? Journal of Asian Security and International Affairs, v. 7, n. 1, p. 101–123, 2020.

LEVITT, Matthew. Hezbollah: Party of Fraud – How Hezbollah Uses Crime to Finance Its Operations. Foreign Affairs, July 27, 2022.

LEVITT, Matthew. Iranian and Hezbollah Operations in South America: Then and Now. Prism: A Journal of the Center for Complex Operations, p. 119-133, 2015.

MUNARETO, Camila Hirt; SILVA, Gabriela Santos da. Casamento por convergência: identidades estatais e a aliança entre Síria e Irã. Malala, Revista Internacional de Estudos sobre o Oriente Médio e Mundo Muçulmano, v. 14, pág. 78–98, 2023.

SAAD-GHORAYEB, Amal. Hizbul̉lah: politics and religion. London: Pluto Press, 2002.