Trump conseguirá negociar a paz entre Israel e Palestina?

Apesar da comemoração dos partidários do atual governo do Likud em Israel, partido do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, até agora o governo de Donald Trump não correspondeu às expectativas que lhe foram depositadas. O discurso de Donald Trump em relação à política de assentamentos do governo israelense na Cisjordânia é realmente mais brando que o de Barack Obama, que abertamente criticava as ações de Netanyahu, mas Trump não provém o apoio que era esperado pelos israelenses. Contra o que especialistas em Oriente Médio esperavam, o presidente Trump decidiu pressionar por um acordo de paz israelense-palestino. Será que Trump terá sucesso diante o fracasso dos demais?
A opinião de especialistas estadunidenses, tanto à direita como à esquerda, tem exortado Trump por forçar israelenses e palestinos para, no máximo, algumas medidas de confiança modestas. O argumento é que os dois lados estão simplesmente muito distantes para fazer mais do que isso. Do lado palestino, a cisão entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, entre o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), formada principalmente pelo partido Fatah, torna a situação mais complicada. O Hamas permanece rejeitando fortemente um acordo e Mahmoud Abbas, líder da ANP, embora bem-intencionado, ainda é politicamente fraco para conduzir uma negociação. Do lado israelense a situação não é menos complicada. Benjamin Netanyahu, enfrentando escândalos pessoais e um governo de linha dura, não tem a determinação para negociar com seus parceiros da coalizão, particularmente da direita religiosa (HaBait Hayehudi) que é a favor da anexação da Cisjordânia ao Estado de Israel,para qualquer tipo de compromisso.
Do lado dos que duvidam de Trump podemos argumentar que o presidente não tem as habilidades, paciência, compreensão e bom senso para fazer um dos conflitos mais complicados do mundo acabar. Ele ignora a história e as realidades atuais do Oriente Médio. E ele também está absurdamente confiante de que ele pode fazer o que nenhum presidente foi capaz de fazer por 70 anos. Parte dessa confiança equivocada é o simples narcisismo, outra parte talvez seja uma tentativa de desviar a atenção de suas lutas e frustrações na frente doméstica.
Em grande medida, todas estas preocupações são justificadas. As probabilidades de um grande avanço são pequenas. No entanto, existem outras maneiras de olhar para o que está acontecendo e algo a ser dito para uma iniciativa de Trump.
O mais importante, Trump tem uma equipe de política externa sólida e respeitável, liderada por James Mattis e H. McMaster. Mattis e McMaster estão reaproximando Trump de volta para o lado dos aliados árabes tradicionais dos Estados Unidos: Arábia Saudita e Egito. Eles acreditam que os sauditas e os egípcios possam levar os palestinos ao longo de um possível acordo e para os EUA, do outro lado, forçarem Israel, se necessário. E por que a preocupação com um acordo agora? Porque, como reconhecem militares veteranos nos EUA, a correnteza dos acontecimentos é profundamente preocupante no Oriente Médio. O Irã ganha força a cada dia que passa e a guerra civil na Síria ainda é preocupante e potencialmente explosiva.
Um acordo entre Israel e a Palestina não tem conexão direta com o acordo nuclear iraniano. Mattis e McMaster não esperam que o negócio seja suspenso. Mas eles acreditam que a paz israelo-palestina seria útil na criação de uma frente unida contra a expansão e “subversão” iraniana na região.
Os sauditas pensam que Trump terá pouca tolerância para o plano de paz árabe se esse plano estiver cheio de ambiguidades. Os palestinos provavelmente contemplam que a equipe de Trump esperará que eles ponham de lado, de uma vez por todas, suas demandas sobre o retorno dos refugiados de 1947 e seus descendentes. E Benjamin Netanyahu reconhece que 50 anos depois da Guerra dos Seis Dias (1967), Trump quererá que o governo de Israel diga em linguagem clara o que espera que as fronteiras de Israel sejam.
Em todo o caso, todas as partes sabem que se Trump é sério sobre querer um negócio, os dias de negociações intermináveis são mais. Trump seria ingênuo? Talvez. Ele não tem noção da história diplomática? Possivelmente. Poderia destruir qualquer potencial acordo com um tweet mal-interpretado? Absolutamente.
No entanto, o que ele não fará é deixar que os árabes se esquivem e os israelenses construam assentamentos e proclamem que isso não importa. O que ele não fará é permitir que ambos os lados declarem que não têm "pré-condições" enquanto agitam uma lista de pontos em que o compromisso é absolutamente impossível. E ele não hesitará em exigir resultados, apontar os dedos e atribuir culpa. E quem sabe? Por mais improvável que pareça, talvez essa abordagem possa realmente funcionar.
Mas a chave é esta: Não há muito a perder. O status quo não é inofensivo, é pernicioso, prejudicando a estabilidade na região. E enquanto a construção de assentamentos e a ocupação continuam a minar as instituições democráticas de Israel e sua posição no mundo o acordo estará longe. Então, sim, Trump é extravagante, mas este pode ser o momento de dar a sua marca particular de extravagância uma chance.
E, finalmente, temos que supor que o presidente Trump é sério sobre querer um acordo, estando Netanyahu feliz com isso ou não. Quando ele chegar a Israel para sua visita oficial, estará pronto com um plano. Netanyahu não tem feito bem nos últimos anos com os Presidentes dos EUA, e não pode se dar ao luxo de alienar este também.O Primeiro-ministro israelense deve estar preparado com especificidades e ideias concretas. Se os palestinos e os sauditas não estiverem prontos para a paz eles terão a culpa. Mas se eles estão prontos para avançar e Israel não estiver, sua imagem só irá se deteriorar ainda mais internacionalmente.
Karina Stange Calandrin é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.

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