Dicionário de Gênero e Segurança

Apresentação

O feminismo nas Relações Internacionais ganhou espaço como abordagem teórica nos anos 1980, no escopo do debate entre teorias positivistas e pós-positivistas. No entanto, as discussões sobre o papel das mulheres na sociedade, a reivindicação de direitos equitativos e o estudo sobre gênero já estavam presentes há décadas em outras áreas do conhecimento, como a Filosofia, a Sociologia e a Ciência Política. O debate acadêmico nessas áreas foi se estruturando paripassu aos avanços do feminismo enquanto movimento político. Nesse sentido, a prática e a teoria são indissociáveis quando falamos de Feminismo.

A teorias feministas em Relações Internacionais compartilham da proposta das demais teorias pós-positivistas (Teoria Crítica, Pós-colonialismo, Pós-estruturalismo, entre muitas outras) de expandir o objeto de referência dos estudos e de uma mudança na maneira de se analisar as temáticas da área. Esse movimento de ampliação e aprofundamento visa expandir os olhares e estabelecer uma nova relação entre o pesquisador e o tema a ser pesquisado. No caso das teorias feministas, a expansão ocorreu em direção a um olhar que considerasse as mulheres na dinâmica internacional e que tivesse o gênero como uma categoria de análise para a compreensão dos fenômenos das relações internacionais.

De maneira geral, as pesquisas feministas e os estudos de gênero propõem três principais agendas de pesquisa: questionar o papel ocupado pelas mulheres na política internacional; analisar como as ideias sobre masculinidades e feminilidades permeiam as relações internacionais; e refletir sobre a construção generificada do conhecimento e dos conceitos base disciplina de RI (Estado, Guerra, Paz, Segurança etc.). Para as teóricas, é necessário tornar visível, assim como desafiar, os binarismos de gênero que estruturam as Relações Internacionais, pois, como afirma Cynthia Enloe, em sua obra “Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Politics”, publicado originalmente em 1990, “o pessoal é internacional” e o “internacional é pessoal” (ENLOE, 2014).

Particularmente nos estudos de Segurança Internacional, essas três agendas de pesquisa têm contribuído para tensionar pressupostos clássicos e interpretações engessadas sobre os objetos de referência, as ameaças e as políticas e instrumentos de segurança. O papel do Estado como garantidor da segurança é questionado e são propostos outros conceitos para analisar os contextos de violência e conflito armado. O objetivo do Dicionário do IARAS-GEDES é, portanto, apresentar as diferentes contribuições teóricas e os conceitos trabalhados nos estudos feministas e de gênero para as análises sobre Segurança Internacional. Há uma diversidade de teorias que se diferenciam nos aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos. A depender do conceito de gênero adotado, determinadas reflexões e caminhos de pesquisa são possíveis. 

A pluralidade de perspectivas nos estudos feministas e de gênero também reflete uma preocupação cada vez maior das pesquisas em considerar os aspectos locais e as interseccionalidades em detrimento de uma análise dita universal. Como pesquisadoras e pesquisadores latino-americanos consideramos necessário o exercício contínuo de questionar os pressupostos e conceitos (re)produzidos desde os países centrais e, a partir disso, refletir sobre as diferentes realidades e mundos por meio de um conhecimento plural. Boa leitura!

Verbetes:

  • Teorias Feministas
  • Conceitos 
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